A polarização, a paixão e as eleições de 2020
Por Viviane Cocco
Em entrevista recente à Carta Capital, o filósofo Valdimir Safatle, professor livre docente do Departamento de Filosofia da USP e colunista do jornal Folha de S.Paulo, fez uma reflexão sobre a polarização e a sensação de paralisia que predominam em uma “sociedade que parece não ter nenhum potencial de transformação imanente”, e coloca o Brasil na condição de laboratório para o resto do mundo. “Essa sensação de paralisia não é só nossa. Se o Brasil virou uma peça interessante no mundo inteiro é porque o mundo inteiro percebeu que o Brasil é um laboratório. Ou seja, o que acontece aqui pode se espraiar em várias situações”, afirmou.
Para o filósofo, o processo de polarização na política vem se aprofundando desde a eleição de 2014, e não dá sinais de retrocesso, ao menos a curto prazo. Uma das razões para a paralisia é justamente a falta de articulação e configuração de uma linha discursiva e de atuação dos partidos e lideranças de oposição ao governo do presidente Jair Bolsonaro, que representa um dos lados deste pêndulo.
Em entrevista ao O Atibaiense, Kleber Carrilho, doutor em Comunicação e professor de pós-graduação em Marketing Político da USP, faz uma leitura do atual momento na mesma linha de Safatle. “As estruturas partidárias e a velha política não estão conseguindo responder aos anseios da sociedade. O ‘fenônemo Bolsonaro’ é uma resposta política e ideológica a isso. Ele não era um outsider, mas soube se vender como. E a oposição ao seu governo, por exemplo, limita-se a desconstruir Bolsonaro. Não faz um movimento de trabalho nas bases, nas periferias, nos sindicatos…, o que acaba dando muito poder a ele”. Para Carrilho, a polarização e o discurso apaixonado ainda devem prevalecer nas próximas eleições.
“É uma disputa de pouca argumentação. Há mais paixão do que argumentos e argumentos não derrubam a paixão. Nossa Democracia é adolescente e, por esse motivo, cedemos às paixões muito facilmente. Neste contexto, o eleitor opta pela paixão simplesmente pelo fato de querer experimentá-la”, explica. “O grande problema é tentar encontrar racionalidade na paixão. Não há. As mesmas pessoas que se apaixonaram pelo Bolsonaro podem se apaixonar novamente pelo Lula”, completa.
Foi também neste terreno, fértil para as paixões, que outro fenômeno despontou: o fortalecimento e uma certa “supremacia” das redes sociais como fonte de informação para o eleitor comum. “A incompetência política é resultado da capacidade de penetração e influência que as redes sociais têm e acaba estimulada por ela, justamente porque nas redes sociais você não precisar explicar nada, não precisa argumentar; apenas propõe”, complementa Carrilho. Também neste aspecto, o cenário não deve mudar.
No âmbito municipal, Carrilho acredita que as análises devam levar em consideração a especificidade e a realidade de cada município e de cada governo no momento das eleições.
Rinaldo Silveira, filho de Cassemiro Silveira, vereador de Atibaia entre os anos de 1983-1988, e um dos personagens mais atuantes nos bastidores das eleições municipais, também acredita que o cenário é diferente nos municípios, considerando que a primeira análise que o eleitor faz é em relação à qualidade de vida. Ou seja, para avaliar se vale a pena manter um grupo político no poder ou mudar, o eleitor vai levar em conta em que aspectos sua vida melhorou nos últimos anos.
Dentro deste contexto, eleger um candidato do Governo Saulo é o caminho mais natural. “Em termos de realização, é o governo que mais fez pela cidade. O governo Saulo equilibrou investimentos, levando infraestrutura e equipamentos para a zona oeste da cidade, que por muitos anos ficou esquecida, e está fazendo importantes intervenções na zona leste. Foi um governo que uniu a cidade”, afirma Rinaldo.
Dentre os “prefeituráveis”, acredita-se que Atibaia terá pelo menos três candidatos. Do lado da situação, o candidato natural à sucessão do prefeito Saulo Pedroso é o vice-prefeito Emil Ono, em razão da posição que ocupa no atual governo, embora Lucas Cardoso, Fabiano de Lima e Luiz Fernando Pugliesi estejam cotados para as “primárias”. Do lado da oposição, Michel Carneiro, Cleber Gerage, Ana Beathalter e Daniel Martini são nomes possíveis.
Sobre o vice-prefeito Emil Ono, Rinaldo acredita que é também o mais preparado para uma gestão que contemple questões abrangendo toda a região, o que vai ao encontro do que está sendo proposto na revisão do Plano Diretor, que é tornar Atibaia um polo de desenvolvimento regional. “Algumas questões, como saúde e segurança, extrapolam os limites do município, e as soluções têm que ser em âmbito regional, a exemplo do que está sendo feito na segurança, com o GGI, que se tornou referência no estado de São Paulo”, ressalta.
Até as convenções de 2020, que ocorrerão entre julho e agosto, o ritmo das movimentações tende a esquentar. Com isso, novos cenários podem despontar em razão de mudanças e novas alianças e configurações partidárias.
Viviane Cocco é jornalista, com especialização em Marketing Político, atual Coordenadora Especial de Planejamento Estratégico da Prefeitura de Atibaia.