O primeiro cinema da cidade de Jarinu
Em Atibaia, por exemplo, no dia 5 de julho de 1903, um seleto grupo de atibaienses assistiu à primeira projeção cinematográfica no extinto Teatrinho do Mercado.
Márcio Zago
No início do século XX, o cinema começou a se popularizar e chegou a muitas localidades por meio dos projecionistas itinerantes. Mesmo antes da eletricidade, esses ambulantes já levavam a magia das telas aos lugares mais distantes do país, utilizando projetores movidos à manivela. Em Atibaia, por exemplo, no dia 5 de julho de 1903, um seleto grupo de atibaienses assistiu à primeira projeção cinematográfica no extinto Teatrinho do Mercado. Poucos anos depois, em 1911, a cidade ganhou seu primeiro cinema, o Pavilhão Recreio Cinema, seguido pelo Popular Cinema.
Com isso, os exibidores ambulantes perderam relevância nas áreas urbanas, mas nos bairros mais afastados, essas atrações continuaram a encantar o público. Além das companhias itinerantes, o cinema também chegava aos bairros pelos circos, que incluíam projeções em suas programações.
Em Jarinu, então distrito de Atibaia até 1949, não foi diferente. Na pequena comunidade, além dos circos, os moradores assistiam às projeções ao ar livre, organizadas pelas companhias que cruzavam a região, ou por iniciativa de algum aficionado pelo cinema. Em 1926, o jornal O Atibaiense noticiou uma dessas exibições. Vale a pena reproduzir a matéria na íntegra. Sob o título “Cinema ao ar livre oferecido ao povo pelo Sr. Coronel Gordinho Filho”, o jornal relatou: “No dia 30 do mês passado (janeiro de 1926), chegou a esta vila o exmo Sr. Coronel Gordinho Filho, presidente da Empresa de Luz Bragantina a fim de oferecer ao povo jarinuense uma sessão cinematográfica ao ar livre, em noite desse dia. Às 21 horas, no largo da matriz, repleto de povo, a despeito do mau tempo, realizou-se a artística exibição, que constou de duas excelentes fitas: uma cômica, intitulada Sai Azar! E outra dramática, de muita movimentação, No Rastro dos Bandeirantes. Em cadeiras, colocadas em frente a casa paroquial, assentaram-se os Srs. Coronel Gordinho Francisco Alves de Siqueira Junior, padre Deusdedit de Araújo, senhoritas Maria do Carmo Siqueira e Maria Luiza de Araújo. A pós a exibição cinematográfica, o Sr. Coronel Gordinho Filho distribuiu profusamente bombons à petizada do local. Foi uma alegre noitada em que o Sr. Coronel Gordinho pode sentir o quanto é estimado em Jarinu, de cujo reconhecimento sincero S. S, é dono. Hospedou-se o ilustre industrial em casa do nosso vigário, padre Deusdedit de Araújo, regressando para a capital, no dia 31, a tarde.”Poucos meses depois, em 6 de junho de 1926, Jarinu inaugurou seu primeiro espaço exibidor fixo, o Cine D’Annunzio. Localizado na sede da “Sociedade do Mútuo Socorro Gabriel D’Annunzio”, mantida pela comunidade italiana da região, o salão comportava duzentos espectadores, com cento e oitenta cadeiras dispostas ao centro e arquibancadas nas laterais da entrada.
A inauguração do Cine D’Annunzio coincidiu com a chegada da eletricidade à Jarinu, fato que trouxe grande otimismo aos moradores, que vislumbravam um período de expansão e progresso trazidos pelos avanços tecnológicos para a antiga comunidade de Campo Largo.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação
autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.