A dificuldade de conceder perdão pode ser superada
Concedendo o perdão não pedido. Com esta chamada, o site Vox abordou um dos temas mais importantes e delicados da mediação e conciliação. O perdão é a “cura”, dizem os espiritualistas. Segundo o site, “o perdão é algo que aprendemos a valorizar como sinal de maturidade e um passo necessário para seguirmos a vida. No entanto, perdoar quem nos magoou pode ser difícil, ainda mais quando o pedido não é colocado com todas as letras”.
No artigo do Vox, parte de uma série sobre o tema, há depoimentos com especialistas sobre as dificuldades de perdoar e de pedir perdão e como podemos ressignificar o ato, que às vezes parece ter mais peso para o magoado do que para quem magoou. As dicas incluem ter paciência e reconhecer que se trata de processo ativo, que requer trabalho emocional, mas que representa uma cura para si, independentemente do resultado para a relação em questão. A terapeuta Harriet Lerner, em seu livro “Why Won’t You Apologize? – Healing Big Betrayals and Everyday Hurts”, diz que, quanto pior a ofensa, mais difícil o pedido de desculpas da pessoa que provocou a mágoa. A vergonha e a auto-decepção atrapalham a habilidade de se orientar pela realidade. Além disso, há outras razões para impedir o pedido de perdão.
Talvez a outra pessoa não esteja ciente do dano que lhe causou ou mesmo desapareceu, fazendo o contato impossível, ou até morreu. Infelizmente, essa é uma situação complicada. Além disso, como perdoar alguém que não está totalmente consciente ou com quem você tem compromisso? Robert Enright, professor de psicologia educacional na University of Wisconsin Madison e coordenador de estudo científico sobre o perdão, e Laura Davis, autora de vários livros sobre estranhamento e reconciliação, trabalharam extensivamente com pessoas sob séria injustiça pessoal, incluindo sobreviventes de abuso sexual na infância e violência de gênero. Uma primeira impressão: eles pensam que é possível perdoar alguém não “repetente” no erro.
De alguma forma, definir o perdão pelo que não é pode ser mais fácil. “Perdoar não é desculpar o que outra pessoa fez; afinal, o comportamento foi errado, é errado e continuará errado”. Perdoar existe separadamente de reconciliação e também de prestação de contas. Reconciliação é a estratégia de negociação entre duas ou mais pessoas para retomar a mútua confiança, enquanto o perdão é uma via de uma só mão. Em outras palavras, o perdão pode ser um passo na direção da reconciliação, mas ninguém precisa atravessar todo o caminho aberto. Perdoar aproxima a pessoa da justiça porque ela não reage mais ao jugo da vingança.
Assim, perdoar é atitude interna. Você não precisa manter o relacionamento com o perdoado. Apenas decide não mais carregar a ferida. É virtude moral, nivelada com a gentileza, a honestidade e a paciência. Virtudes morais têm foco no benefício dos outros. É algo que você faz pela outra pessoa, sem ficar preocupado se ela ganhou ou não. Para você, continuou difícil conceder o perdão? Ou melhorou?