Os primeiros grupos dramáticos e as primeiras peças encenadas em Atibaia
A Juvenal Alvim a glória da construção do primeiro Teatro, e a José Gonçalves a palma de encabeçar com a austeridade da sua pessoa, o primeiro Grupo Dramático da nossa terra”.
Márcio Zago
Waldomiro Franco da Silveira, no livro “História de Atibaia”, relata com precisão quem foram os precursores da arte dramática no município: “Para inaugurar o primeiro Teatro atibaiano, organizou-se um Grupo Dramático cujo presidente era José Gonçalves da Cunha, elemento de destaque da cidade. Fez parte do grupo, a fina flor da cidade conterrânea: Juvenal Alvim; José Franco da Silveira; João Gonçalves da Cunha; Izaías Propheta; Pedro Palhares, ensaiados por João Carneiro, o farmacêutico baiano Carleone, e um professor Aranha que prestavam seu valioso concurso desempenhando papéis femininos, suprindo assim a falta de legitimas damas. Emprestavam a indispensável graça feminil ao conjunto, as filhas de Francisco Delboux e de João Tiburcio Leite Penteado. Como “ponto”* funcionavam Hipólito de Oliveira Campos e João Tibúrcio. “Manchas de Sangue” foi o drama de estreia, levado a cena no primeiro Teatro da nossa terra: o sucesso causado incentivou os amadores a continuarem a cultivar a arte de Thalma. Este Grupo floresceu por alguns anos, com os seus elementos sempre em renovação; embora tivesse de vencer dificuldades oriundas de um meio pequeno, e de poucos recursos artísticos, preencheu cabalmente os fins em vista. A Juvenal Alvim a glória da construção do primeiro Teatro, e a José Gonçalves a palma de encabeçar com a austeridade da sua pessoa, o primeiro Grupo Dramático da nossa terra”. Depois de inaugurado, além do grupo local, pequenas companhias teatrais passaram a se apresentarem nosso teatrinho. É o caso da “Companhia Mattos &Comp”, que em 1901 representou o drama “Maria Joana”, com destaque para a D. Anna Chaves, que “fez a plateia, sem querer, verter lágrimas”.
No ano seguinte a companhia fez nova apresentação. Desta vez, além de “Maria Joana”,encenaram “O Filho da República”. De Atibaia a companhia rumou para Bragança Paulista, onde se apresentaram no luxuoso Teatro Carlos Gomes, o supra-sumo da época. Três meses depois “O Atibaiense” publicava: “No domingo passado a companhia dramática de que é empresária D. Anna Chaves deu-nos a Revista Bragança na Ponta. O desempenho foi regular, não podendo ser melhor pela escassez de espaço em nosso teatro e falta de alguns atores que ficaram em Bragança. Para hoje está anunciado novo espetáculo com peças novas e muito atraentes. Ao teatro!”. Nota-se, portanto, que a primeira companhia teatral a nos visitar (que se tem noticia)pertencia a uma mulher, fato incomum na época.Outras companhias vieram como a dos “Pygmeus”, dirigidas pelo Sr. Alfredo de Souza. No anuncio da peça um apelo para que a alta sociedade da época prestigiasse o espetáculo para fazer de Atibaia a imagem de uma cidade culta. Em 1903 apresentou-se o popularíssimo ator Brandão com sua trupe. No mesmo ano a “Companhia Julia Lopes”, que iria influir fortemente na cena teatral do município. Julia Lopes era uma menina “prodígio” de apenas onze anos que se apresentava com seu irmão Júlio, de nove.
Esta apresentação contou com a presença dos artistas locais Napoleão Maia e Juvêncio Fonseca, além de “distintas e gentis” senhoritas desta cidade. Fazia parte da companhia os atores Alexandre Paganelli e sua esposa, Dona Dolores, que depois de uma segunda temporada no município se desligaram da “Companhia Julia Lopes” e passaram a morar em Atibaia. Este casal foi responsável por fomentarem Atibaia um grupo teatral que iria influir fortemente na cultura do município: o Grupo Dramático Carlos Gomes. Mas isso é assunto para os próximos artigos.
Márcio Zago é artista plástico e artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”. É criador e curador da Semana André Carneiro.