O som chega ao Cine República

A cena muda veio revolucionar os meios sociais da cidade, nada mais foi tão divertido do que apreciar uma comédia na tela.

Márcio Zago

O amigo Renato Zanoni era um apaixonado pelo cinema e pela história da cidade… Em seu livro Atibaia no Século XX há uma pequena crônica sobre o inicio do cinema local: “A sétima arte chegou cedo a Atibaia, em 1903 teve a primeira exibição de cinematografia. A cena muda veio revolucionar os meios sociais da cidade, nada mais foi tão divertido do que apreciar uma comédia na tela. Trouxe para a pacata cidade um mundo de informação, de educação e nova linguagem nas salas de visitas. Antes do cinema, quase tudo era inacessível ao povo pobre. A cena, embora trepidante, trazia um encanto novo…”.
Essa adesão da população local ao cinema propiciou um rápido crescimento do setor, possibilitando que as novidades logo chegassem ao município. Em seis de janeiro de 1930, o jornal O Atibaiense publicou um anúncio do Cine República promovendo a exibição do filme O Cantor de Jazz, dirigido por Alan Crosland.

 

 

Considerado um marco na história do cinema, The Jazz Singer (1927) foi o primeiro longa-metragem a sincronizar diálogos e músicas com o uso de um disco de acetato. Até então, os filmes eram mudos e, quando havia trilha sonora, ela era executada ao vivo por músicos que improvisavam conforme o desenrolar das cenas. A introdução do som no cinema, resultado de inúmeras tentativas anteriores, gerou controvérsias.
Enquanto alguns críticos acreditavam que o som comprometia a linguagem cinematográfica, outros o viam como um elemento enriquecedor, capaz de expandir as possibilidades artísticas. No entanto, independentemente das opiniões, o cinema falado veio para ficar. Em Atibaia, contudo, o filme foi exibido sem som, já que o Cine República ainda não possuía os equipamentos necessários para a projeção de filmes sonorizados. A trama do filme O Cantor de Jazz gira em torno do conflito enfrentado pelo protagonistaque busca se libertar das tradições e dos costumes culturais de sua família judia para se dedicar ao jazz, um estilo musical que ganhava popularidade na época.
A partir desse musical o filme sonoro ganhou popularidade mundial e logo chegou também em Atibaia. No dia 2 de abril de 1932, o jornal O Atibaiense anunciou a novidade: “O Theatro República, no afã de bem servir e satisfazer seus frequentadores, acaba de adquirir da Casa Biynton& Cia., de São Paulo, superiores e ótimos aparelhos para fitas sincronizadas, faladas e cantadas, marca Fonocinex, com proctor Erneman. A inauguração será no sábado, com a bela película “Inspiração”, estrelada por Greta Garbo, e a divertida comédia “Vizinho Camarad”, com a dupla Laurel&Hardy (O Gordo e o Magro)”.
Na crônica Cinema falado em Atibaia, o memorialista Renato Zanoni escreveu: “Foi magistral a chegada do cinema falado em Atibaia. Indescritível a sensação de ver o artista abrindo a boca e ouvir o que ele estava falando. Foi Greta Garbo, em Inspiração, que deixou os fãs endoidecidos de prazer. A Divina tinha voz suave e um leve sotaque de escandinavo. Em seguida viria Grande Hotel, com a mesma atriz, também falado (Oscar de 1932), que trazia como coadjuvante Joan Crawford. Em Atibaia não se aceitou mais programas com fitas mudas”.