E o rádio chegou a Praça Claudino Alves…

De lá, os programadores, ocasionalmente, colocavam os microfones em frente a um aparelho de rádio que transmitia em ondas curtas, reproduzindo os programas.

Márcio Zago

Em 1940, o jornal O Atibaiense publicou uma nota sobre a inauguração da “Rádio Propaganda de Atibaia”, possivelmente a pioneira na retransmissão de rádio na cidade. Os primeiros sons emitidos foram o discurso proferido por um de seus proprietários, o Senhor Sebastião Bueno. Nele, ficava clara a proposta e a intenção dos donos da firma Scapini & Bueno: “Ao iniciar a sua irradiação, a Rádio Propaganda de Atibaia abre suas portas, grata ao público ouvinte, pela prova de interesse que está demonstrando pelo nosso empreendimento.
Apresenta o seu especial e efusivo agradecimento ao comércio local, que tão pressurosamente atendeu nosso apelo e trouxe o seu inestimável concurso à nossa iniciativa. Agradecemos ainda ao ilustre, inteligente e operoso Prefeito da cidade, pela sua alta compreensão da nossa finalidade, dando à nossa causa o seu valioso apoio”. O Prefeito da época era João Batista Conti, profundo conhecedor e amante das tradições e da cultura local.
Os aparelhos de rádio já habitavam a residência de algumas famílias da elite econômica local, mas foi através da Rádio Propaganda de Atibaia que a linguagem radiofônica chegou ao grande público. No país, o rádio deixava de ser privilégio de alguns para, devagar, se transformar no maior e mais importante veículo de comunicação de massa, uma supremacia que durou décadas.
A retransmissão ocorria pelos chamados serviços de alto-falantes, comuns na maioria das cidades brasileiras. Em Atibaia, os alto-falantes da Rádio Propaganda foram instalados na Praça Claudino Alves, onde também se localizava sua sede, um pequeno cômodo com mesa, microfone e toca-discos.
De lá, os programadores, ocasionalmente, colocavam os microfones em frente a um aparelho de rádio que transmitia em ondas curtas, reproduzindo os programas. Embora a novidade funcionasse todos os dias, havia um horário específico: das 19 às 21 horas. Antes da popularização das emissoras de rádio, nos anos 1950, era por meio deste sistema que as pessoas ficavam sabendo das notícias de sua comunidade, eram incentivadas a comprar no comércio local e ouviam músicas dos mais diversos estilos.
Pelos alto-falantes dessas rádios, espalhados pelo país inteiro, surgia um novo veículo de afirmação e expansão cultural, principalmente ligado à música. No artigo do jornal O Atibaiense, é possível saber qual foi a primeira música que ecoou pela Praça da Matriz por esse sistema: “Esse Luar”, de Antenógenes Silva, com a Orquestra Típica Victor. Essa bela valsa traduz com perfeição a trilha sonora de uma época marcada pela simplicidade, pela ingenuidade e pela beleza que um dia ostentou a nossa cidade.
Com a expansão das emissoras de rádio e a popularização dos aparelhos radiofônicos, os alto-falantes foram desaparecendo, abrindo caminho para informações de caráter generalizado e massificado, deixando para trás a voz da comunidade e suas especificidades.

* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.