Os espaços culturais da região
Márcio Zago
Em Atibaia, em frente à Praça Aprígio de Toledo (na entrada do estacionamento), existia um pequeno teatro. Por mais de três décadas, o Teatrinho do Mercado abrigou inúmeras atividades culturais, como exibições cinematográficas, apresentações cênicas, ensaios musicais e outras reuniões de cunho cultural a até esportiva.
Fundado em 1884 o teatrinho resistiu até 1915, quando foi extinto para a ampliação do mercado. Fundado em 1897, o Clube Recreativo Atibaiense também abrigou atividades artísticas naquele distante início do século XX, acolhendo principalmente apresentações musicais, além dos bailes.Assim como em Atibaia, outras cidades vizinhas também tiveram seus espaços culturais.
É o que registram as páginas do jornal O Atibaiense e a literatura existente sobre a região. Na matéria “Excursão a Curralinho”, publicada em 1915 pelo O Atibaiense, o autor descreve uma excursão realizada por uma comitiva de Atibaia a Curralinho. Curralinho recebeu dois anos depois dessa matéria a denominação de Joanópolis. Neste município, com aproximadamente 10.000 habitantes na época, havia dois espaços de utilização cultural conforme atesta o trecho a seguir: “(…) às 21 horas, no Theatro Curralinhense deu começo ao espetáculo em benefício das obras da matriz daquela cidade, a conferencia literária pelo professor Miguel Arruda… Em seguida a conferencia foi apresentado pelo grupo de amadores o belíssimo drama em um ato “O Avarento” e a interessante comédia “Doidos com juízos”.
Mais adiante o texto conclui:”Terminado o espetáculo foram os visitantes ao Clube Recreativo, onde se esperava a escol da sociedade curralinhense. Realizou-se então, no vasto salão desta sociedade, um animada soirée dançante que se prolongou até altas horas da madrugada”.
No livro ‘Travessias’, a pesquisadora Lígia Wild relata que na cidade de Jarinu, que até 1911 era conhecida como Campo Largo, também havia um espaço cultural: A Società Italiana di Mutuo-Socorro Gabrielle D’Annunzio. Criada pelos italianos daquela localidade, a “Società desempenhava um papel importante como local de lazer cultural. Ela contava com sede própria, um espaçoso salão dotado de palco e cabine de projeção, e logo passou a ser um ponto de encontro dos italianos, oferecendo projeções de filmes, encenações teatrais e sessões litero-musicais”.
Na pequena cidade de Piracaia, também existia seu espaço cultural, o Teatro Santa Aurea, que abrigou diversas apresentações dos grupos teatrais de Atibaia. A partir de 1938, o Teatro se transformou em cinema, e felizmente foi tombado pelo CONDEPHAAT em 2012.Outra cidade que possuía um belo espaço cultural era Bragança Paulista. É de lá o primeiro Teatro de Opera do interior do Estado: o Teatro Carlos Gomes. Sua construção ocorreu entre 1892 e 1894, nos tempos áureos do café, graças aos fazendeiros Felippe Rodrigues de Siqueira e Izidro Gomes Teixeira. Embora Bragança fosse àépoca a nona cidade mais populosa do Estado de São Paulo, não tem como imaginar a construção desse teatro e não associá-lo ao filme Fitzcarraldo, de Werner Herzog. Construir naquela época um teatro com quase quatro mil metros, com a lotação de mais de mil pessoas… era uma epopeia! Lembrando que a cultura erudita era para poucos e o analfabetismo predominava. Mas o sonho se concretizou e perdura até hoje. Após a reforma que passou recentemente o Teatro Carlos Gomes virou um Centro Cultural e felizmente continuará a ser palco dos sonhos de muita gente.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.