Durabilidade dos sistemas de fachada

A escolha do sistema construtivo parece simples, porém os aspectos mais importantes não são considerados pelo cliente.

Por Eng. Jonathas de Alencar Lopes
Especialista em Engenharia Diagnóstica

Algumas vezes já fui questionado por clientes com a seguinte pergunta: qual a melhor técnica construtiva para se executar uma fachada? Sempre que me deparo com esse questionamento tento entender o que isso significa para aquela pessoa antes de responder. Se a pessoa em questão for um construtor de um stand de vendas, ele não está muito preocupado com a durabilidade do sistema, pois logo aquela constru-ção será desmontada, do seu ponto de vista o melhor sistema construtivo seria considerado de rápida execução, fácil de se aplicar, materiais disponíveis no mercado, e com um acabamento estetica-mente aceitável. Por outro lado, se o cliente é o proprietário de um edifício que tem que manter a edificação em utilização por um longo período, sua intenção com essa pergunta muitas vezes remete à um sistema construtivo robusto, que tenha alta durabilidade, manutenibilidade, baixo custo e baixa periodicidade de manu-tenção, portanto minha resposta sempre será: Depende…!
A escolha do sistema construtivo parece simples, porém os aspectos mais importantes não são considerados pelo cliente. Entre uma fachada que durará décadas a fio e outra que terá que ser reformada periodicamente à primeira vista parece uma escolha óbvia. Por que nós técnicos não nos dedicamos a encontrar uma técnica para construir fachadas eternas?
Quando pensamos em fazer uma fachada indestrutível em primeiro momento nos parecer a escolha certa, porém quando entramos em uma construção antiga a primeira coisa que vem a cabeça é como posso modernizá-la, torná-la com cara de “nova”, e aí está a resposta, o critério que consideramos para construir é a “obsolescência” do sistema, ou seja, quanto tempo esse sistema ficará fora de moda ou antiquado, em quanto tempo o cliente irá substituí-lo por um novo. Esse período de utilização que chamamos de vida útil estipula quanto tempo um sistema será útil para o usuário e isso dependerá também do critério estético que agrega valor ou desvaloriza um imóvel, especialmente nas fachadas, nós não produzimos fachadas eternas pois, em primeiro lugar, ninguém realmente quer uma fachada para sempre, todos querem sempre a “última moda” em acabamento, o que valorizará a construção como um todo.

 

 

A obsolescência não é só observada por questões estéticas, como também pode ser considerada por critérios técnicos, vejamos o exemplo de uma instalação elétrica de uma residência que foi projetada a 40 anos atrás quando não se tinha ideia de como seria utilizada hoje com aparelhos de ar-condicionado em vários ambientes, diversos eletrodomésticos nas cozinhas (panela elétrica de arroz, de feijão , churrasqueira elétrica, micro-ondas, fritadeira elétrica, entre outras), diversos eletrônicos (celular, TV, lâmpadas inteligentes, notebook, assistente inteligente, câmeras, fechaduras) isso sem dúvida exige do sistema um critério técnico de desempenho totalmente diferente do que foi projeto tornando muitas vezes a instalação obsoleta.
Outro aspecto a se considerar para se construir uma fachada eterna é o seu custo pois é desejável que as fachadas se durabilidade que influencia a taxa de deterioração do material no meio, as fachadas como estão expostas a intempéries estão sujeitas a ação físico-químico-biológico do meio que estão inseridas, assim como os materiais que as compõe o que interfere diretamente na degradação e periodicidade de manutenção. Além disso deseja-se também manuteni-bilidade, que seria a facilidade de se executar a manutenção que envolve facilidade de acesso, facilidade de intelecção e execução dos processos envolvidos, meios que garantam a segurança para os profissionais envolvidos nos processos de manutenção.
É claro que o ideal seria um sistema construtivo que agrega características de durabilidade máxima e baixíssima manutenção, porém, como tudo na vida em con-trapartida a isso o custo de execução se eleva e como vimos anteriormente, apesar de garantir alta durabilidade no fim das contas ficará obsoleto antes que compense. Portanto a durabilidade, vida útil e desempenho dos sistemas de fachada deve ser balanceado pelos construtores e atender a premissas de projeto que levem os aspectos mencionados em consideração. Dentro do estado da arte pode-se mencionar a NBR 15.575 que impõe como vida útil mínima para o sistema de vedação vertical externa (SVVE ou fachada) pelo menos 20 anos, portanto as fachadas devem durar pelo menos esse período desde que sejam atendidos os critérios de manutenção.
Vamos comparar os dois sistemas mais utilizados no Brasil, a fachada revestida com filme de pintura e a revestida com cerâmica. Ao verificarmos o critério de obsolescência uma fachada em revestimento cerâmico permanece com a mesma aparência da sua concepção até sua reforma por ser obsoleta, porém uma fachada pintada tem a “vantagem” de ser facilmente modernizada com uma repintura mudando apenas a cor da tinta, textura, desenhos da pintura. Já observando o segundo aspecto a durabilidade e a manutenção, os revestimentos cerâmicos tem alta durabilidade ao intemperismo pois possui carac-terísticas de resistência a abrasão, resistência a ação de ácido e álcalis, tem extrema facilidade na limpeza de sua superfície, atin-gindo décadas de durabilidade apenas com lavagem e manutenção das juntas (rejuntamento e selagem), por outro lado a fachada revestida com filme de pintura por se tratar de um filme milimétrico de polímeros acrílicos, é facilmente atacado por agentes biológicos (algas, fungos e bactérias) que deterioram seu material, é degradado por radiação ultravio-leta que resseca a película e permite a entrada de água, a sujidade impregna provocando alterações nas características higroscópicas do material que potencializam sua degradação, ficando o sistema atrelado à uma manutenção de repintura periódica para garantir o desempenho mínimo esperado para o sistema.
Podemos concluir que não há um sistema construtivos ideal, pois cada um tem suas características particulares, assim como custo para execução e manutenção e vida útil estipulada por período determinado antes que fique obsoleto. Portanto deve-se escolher o sistema construtivo com melhor custo-benefício a partir das características e exigências do cliente, e cabe ao técnico a interpretação o que irá atender melhor dependo dos critérios financeiros, estéticos, de utilização e de manutenção que se pretende obter para manter sua fachada e detalhar em seu projeto.