A dança em Atibaia
Marcio Zago*
A dança é uma das manifestações artísticas mais antigas da humanidade e teve seu inicio nos rituais sagrados. Com o passar do tempo cada povo desenvolveu sua própria forma e estilo de dançar, caracterizando as diferentes culturas. Surgiu então a dança guerreira, teatral, ritualística, religiosa, popular, folclórica, a dança da corte gerando o balé clássico, atravessando o tempo e passando pelo balé romântico e a dança moderna na virada do século.
Em Atibaia, enquanto o povo pobre e simples dançava nos bailes e nas festas populares, ou então nos rituais de religiosidade como as congadas e as danças de São Gonçalo, a burguesia se organizava em festivos e alegres bailes, chamados na época de “soirée” dançante, ou então de outra forma mais popular: assustado. Certamente a dança de salão era o que prevalecia. Trazida pelos colonizadores portugueses, ainda no século XVI, e mais tarde pelos imigrantes de outros países da Europa, a dança de salão ganhou em Atibaia grande aceitação, tornando-se importante aglutinador da abastada sociedade local.
Em 1902, com o título Baile, “O Atibaiense” publicou a seguinte nota: “Por iniciativa de diversos moços de nossa fina sociedade, no dia 15 do corrente, em casa do importante fazendeiro Sr. Claudino Alves do Amaral, deram um baile onde concorreu o “high life” da nossa sociedade, dançando-se até às 2 horas da madrugada. Com este baile tão concorrido pelas gentis senhoritas, desfizeram-se certas nuvens que pairavam no ambiente do mundo feminino desta cidade…”. Como se nota, os bailes propiciavam encontros, trocas e acertos entre a classe dominante e, neste caso, provavelmente até nas questões amorosas. Em 1905 o animado “soirée” ocorreu na casa do Coronel Lourenço Franco, com direito a serviço de chá oferecido pela Senhora Magdalena Franco, esposa do Senhor João Batista Franco (servir chás em bailes era uma tradição da época).
Mais tarde foram as moças que promoveram outro baile na residência de Claudino Alves do Amaral: “Foi concorridíssimo. Dançou-se até 5 horas da manhã, reinando sempre a maior harmonia e entusiasmo entre os convivas”. Receber os amigos em animados encontros dançantes tornou-se frequentes. E tudo era motivo para comemorar, como a “soirée” oferecida na despedida de Calixto Rinaldi antes de mudar-se para a Itália (Calixto Rinaldi foi o primeiro fotógrafo de Atibaia).
O baile ocorreu na residência do Sr. João Lucio da Cunhae foi oferecida pela Banda União da Mocidade. A visita de delegações de fora ou de pessoas ilustres também eram motivos para realizar os animados bailes, além das datas comemorativas, aniversários e outros. Na gíria popular tinha uma expressão característica.
Diziam: Engraxem as “gambias” que vai ter baile! E quando demorava muito tempo entre um baile e outro o povo reclamava:“Felizmente parece-nos que vão reviver os divertimentos nesta cidade, pois havia certo esmorecimento até bem pouco, que dava a alegre sociedade atibaiense de outrora um tom monástico”. Apesar da frequência com que ocorriam os bailes familiares, era no Clube Recreativo Atibaianoque a manifestação ganhava importância… Mas este assunto fica para o próximo artigo.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.