Minecraft e a autonomia na assessoria de imprensa

A vida é um jogo e meu neto Mikael demonstrou essa afirmação ao brincar com games como o Minecraft. É um cenário em que o jogador pode ser criativo. Os espaços se multiplicam, com árvores, animais, mares e construções. Os mais ousados criam suas próprias narrativas, dentro da estrutura já criada pelo fabricante, tornando-se youtubers famosos entre a galera.
Mas o que a assessoria de imprensa tem a ver com isso? Tudo. Numa paisagem com design padronizado, é possível desenhar coisas diferentes. Os releases não precisam ser textos burocráticos e sem timing. O assessor de imprensa, “player” ou “gamer” da comunicação, precisa chegar nos assuntos de seus assessorados antes da mídia. Muitas vezes, ele até sabe o que está acontecendo, mas se sente constrangido ou pressionado a não falar nada. E, assim, os temas mais polêmicos viram “bombas”, com explosões anunciadas.
No ambiente da internet, em que a dinâmica é febril, não precisamos viver mais assim. Claro que a base é uma relação de confiança entre assessorado e assessor. No poder público, o político tem de acreditar na capacidade técnica e na sensibilidade do comunicador, na sua precisão ao reagir com autonomia a possíveis crises e ameaças. Se não acreditar ou pedir apenas uma postura de “zagueiro na retranca”, para utilizar a terminologia do futebol, vai perder pontos, votos, e carregar desgastes desnecessários.
Quando fui diretor de Comunicação na Câmara, em 2019, experimentei mais de perto esse conceito apresentado no parágrafo anterior. Minha avaliação é de que a experiência foi muito positiva, de grande aprendizado, no sentido da atuação “em cima da jogada”. Participei da assessoria do Legislativo como jogador veterano, que já aprendeu a dosar a energia para cada situação de conflito.
2019 foi um ano de muita agressividade contra a presidência da Câmara. Como parte da equipe, participei de muitas reuniões difíceis com as chefias da Casa, o Jurídico, a imprensa, mantendo meu projeto de incrementar a parte cultural do parlamento. Nesse último quesito, contei com o Clube Atibaiense de Fotografia, artistas plásticos e a minha querida professora e escritora Juliana Gobbe, que fez belíssimas entrevistas com produtores culturais e educadores. Golaço!
O que tem sido mais complicado para mim nestes mais de vinte anos de atividades na assessoria de imprensa da Câmara e antes da Prefeitura? A frágil solidariedade de “colegas” e a suspeita consistente de ser vigiado e monitorado em minhas ações, como se eu fosse adversário ou alguém perigoso, mesmo tentando ser o mais institucional possível no dia a dia. Constatei aí que muitos jovens comunicadores querem se destacar pelas ferramentas exteriores do marketing e não pelo suporte interno da cultura e da arte, que contextualizam a política. Fica aqui um puxão de orelha carinhoso e amoroso, com as bênçãos do Senhor!

Por Luiz Gonzaga Neto