A eterna vigilância sobre os sites perigosos
Quando vejo meu neto jogando Dragon Ball ou Minecraft, sei que há um fabricante, uma origem reconhecida em cada produto, uma autoria. Agora, as fake news e os sites neonazistas são perigosos não apenas pelo conteúdo – contra a sociedade democrática – mas pela omissão dos nomes de seus “criadores”, que agem camuflados, escondidos sob perfis falsos, em redes clandestinas de desinformação.
A imprensa séria, as entidades que lutam por valores importantes para a sociedade civil, a classe política comprometida com a história e o resgate das dívidas com grupos e maiorias/minorias, as instituições como a Justiça e o Ministério Público, têm agora o compromisso da eterna vigilância. Não podemos cochilar ou viver distraídos. Pelas futuras gerações, precisamos pagar esse preço e funcionar como um farol em mar revolto.
O jornal El País apontou seu olhar para esses grupos empoderados pelo discurso racista, anticomunista, armamentista e LGBTfóbico. São radicais de extrema direita e de inspiração hitlerista, que proliferam nas redes e até se arriscam a se mostrar em pequenos grupos nas ruas com bandeiras, palavras de ordem e, por vezes, violência.
O crescimento dessa vertente de ultradireita no país pode ser quantificado na Internet. Segundo levantamento da Safernet, organização não-governamental que promove os direitos humanos na rede e monitora sites radicais, em maio de 2020 foram criadas 204 novas páginas de conteúdo neonazi, ante 42 no mesmo mês do ano passado e 28 em maio de 2018.
O jornal espanhol, que tem uma versão brasileira, observa que o crescimento do neonazismo no país e sua atração por núcleos do poder federal também são identificados por outros estudos. A antropóloga da Universidade de Campinas Adriana Dias, especialista no tema, identificou 334 células neonazistas em atividade no país no final de 2019, a maioria ainda ativa hoje. Cada célula tem entre 3 e 30 pessoas.
Essas células querem incentivar o descrédito na mídia tradicional, o desrespeito às instituições, a perseguição aos negros e o crescimento da direita radical, que afirma a supremacia branca e o horror contra os homossexuais. Eles não se importam mais com rodeios. Apostam no extremismo e nas frustrações de parte considerável da população. Este filme, nós já vimos e não acaba bem. Sejamos sentinelas, guardiões, observadores atentos e defensores rigorosos da democracia.