Toda criança é nossa criança
Mais do que nunca, é tempo de proteger a infância brasileira das perversas violações de direitos.
Anna Luiza Calixto
Se lembrar é combater, esquecer é permitir. Você certamente conhece um menino ou uma menina brasileira cuja proteção também está em suas mãos, nas mãos de todos nós. Toda criança é nossa criança. E suas histórias não podem ser resumidas à violência sexual.
Sempre que me perguntam, durante alguma oficina do Projeto Os Cinco Passos, a partir de que faixa etária é possível conversar com nossas crianças e adolescentes sobre o abuso e a exploração sexual, eu devolvo a pergunta: a partir de que idade nossas crianças e adolescentes podem ser violentados sexualmente? Não há limites para a violência.
Os abusadores sexuais fazem proveito das lacunas que nossa educação sexual deficitária permite, construindo um conceito de afetuosidade descaracterizado, que se confunde com o abuso sexual.
Estereotipar o abuso sexual é um desserviço à infância. Nas atuais conjecturas desta violência, o tradicional não fale com estranhos deixou de ser suficiente. Mais de 70% dos casos de abuso sexual infantil tem na figura do abusador alguém próximo à criança ou adolescente, como uma figura de cuidado ou um amigo da família que recorrentemente a visita e manifesta um carinho particular por aquele menino ou menina. O homem ou a mulher que pratica o abuso, exerce ali, antes de tudo, uma relação de poder.
Crianças e adolescentes estão atravessando um processo de desenvolvimento peculiar, em que a garantia de seus direitos fundamentais é um bem inegociável. Com nossos meninos e meninas, não existe sim. Sim é não. Talvez é não. Não sei é não. Não é não.
Bem me quer ou mal me quer? Para responder a esta pergunta, de criança pra criança, vamos falar de abuso sexual infantil. Para elas e com elas, daremos a tantos meninos e meninas brasileiras uma nova história, escrita por suas próprias mãos.
Anna Luiza Calixto é palestrante e escritora.