O discurso e a utopia da extrema direita
Estamos perplexos com o crescimento da direita e, principalmente, da extrema direita, tanto no Brasil como em muitos outros países. A mídia tem procurado cercar o assunto, que é historicamente complexo e exige conhecimentos de política, economia, sociologia, antropologia e mesmo teologia.
O grande jornal espanhol, o “El País” dedicou recentemente suas energias para entender o discurso e a utopia da extrema direita. “A extrema direita tem uma utopia. Conservadores e sociais-democratas não têm nenhuma”, afirmou a alemã Carolin Emcke, filósofa e repórter de guerra durante dez anos, que analisa como a xenofobia (ódio aos estrangeiros) tenta monopolizar o discurso político.
A jornalista se preocupa com a “força que está adquirindo uma ideologia autoritária, antimoderna e baseada em dogmas de pureza que constroem a realidade como se fosse um perigo, uma ameaça. Esta ideologia está mudando o discurso político no sentido de normalizar o racismo, o antissemitismo, o antifeminismo, e contribui para desumanizar as pessoas ou coletivos que mais tarde são vítimas de atentados da extrema direita. O problema é que, quando eles ocorrem, focamos o debate na violência e despolitizamos o contexto ideológico que a torna possível. Não só temos que lutar contra o extremismo quando é violento, mas também contra a ideologia que leva à violência”.
O pior é que os meios de comunicação “se tornaram o seu principal instrumento de propaganda porque não entendem sua estratégia. A extrema direita não tem nenhum interesse em discutir nem em ganhar nenhum debate. A única coisa que ela procura é visibilidade. E isso é o que lhes proporciona o mau jornalismo que recorre aos debates políticos para ganhar audiência. A doença da televisão atual é confundir neutralidade com cinismo. O problema desses programas é que são apenas um simulacro de debate. E não é verdade que todas as opiniões valham igual. Há opiniões que estão apoiadas em mentiras. O que a extrema direita procura é que não se distinga entre verdade e mentira”.
Em outras palavras, acertou na mosca!