O efeito Intercept no jornalismo
O que dizer de novo sobre um assunto que está ardendo, na ordem do dia? É o caso do trabalho do Intercept Brasil, que caiu como uma bomba sobre a política e a comunicação do país em 2019. Como fenômeno ainda em chamas, ainda não temos a necessária perspectiva para compreendê-lo. Professores, estudantes e especialistas em comunicação tentam digerir esse desafio. A impressão é de que a imprensa não será mais a mesma após esse caso.
Um bom ponto de vista para observar o desenrolar da história é o site do Observatório da Imprensa, criado pelo lendário Alberto Dines. Artigo de Carlos Wagner, publicado originalmente no blog Histórias Mal Contadas, foi reproduzido pelo site, na busca de esclarecer cada vez mais o que está acontecendo.
Desde a primeira semana de junho, o site Intercept tem publicado conversas feitas pelo aplicativo Telegram entre os responsáveis pela Operação Lava Jato. “A consolidação da imagem de símbolo do combate à corrupção da operação teve como construtora a imprensa, que, devido à concorrência entre os noticiários e à carência de pessoal, enfiou garganta abaixo dos repórteres a Lava Jato. Os conteúdos das delações premiadas e das investigações feitas em campo por agentes inundaram as redações em forma de vídeos, áudios e documentos”, começou contando o autor.
Em todas as situações públicas, o mínimo que se pode esperar é que cada um cumpra a sua função, determinada pela lei. “O que as publicações do Intercept estão mostrando é que isso não acontecia”. De heróis nacionais, os responsáveis pela Lava Jato foram jogados no descrédito e apresentados como vilões. Houve transgressão à lei? Houve mentira para a imprensa? Carlos Wagner diz “sim” às duas questões. E, agora, José? – perguntaria o poeta Carlos Drummond.
Quando os jornalistas se sentem enganados por autoridades, “viram bichos”, como se diz em bom português. Alegando ter enorme volume de informações, o site The Intercept vem publicando as conversas a conta-gotas. Há quem explique o procedimento assim: veneno tem de ser tratado com veneno. Faz parte do jogo. Uma risada malévola e cavernosa vem soando pelos corredores das redações.