HISTÓRIAS DE ATIBAIA – E a cidade ficou sem saber o resultado…
A grande maioria da população, na época, podia contar com os serviços de alto-falante, um sistema de comunicação popular que transmitia notícias, músicas e anúncios pelas praças das cidades.
Márcio Zago
Nos anos 1940, o aparelho radiofônico ainda era um privilégio de poucos. A grande maioria da população, no entanto, podia contar com os serviços de alto-falante, um sistema de comunicação popular que transmitia notícias, músicas e anúncios pelas praças das cidades. Em Atibaia, o grande acontecimento era acompanhar a programação do SAFA — Serviço de Alto-Falante de Atibaia, instalado na Praça Claudino Alves. Era ali que os jovens se reuniam para o footing ou simplesmente para ouvir as últimas novidades fonográficas. Para promover o empreendimento, o novo proprietário, o empresário César Mêmolo Junior, lançou o primeiro concurso do SAFA, com o intuito de unir cultura e entretenimento. As perguntas testavam o conhecimento dos atibaienses sobre a cidade:
1 – Qual o antigo nome da Rua José Lucas?
2 – Qual o antigo nome da Praça Claudino Alves?
3 – Qual o antigo nome da Praça Bento Paes?
4 – Qual o nome do segundo Barão de Campinas e onde ele nasceu?
5 – E, finalmente: qual a origem e o significado da palavra Atibaia?
O concurso foi um sucesso. Animado com a repercussão, o SAFA anunciou, semanas depois, uma nova edição — mas desta vez com um tom bem diferente. Era o ano de 1947, período eleitoral, e o candidato local a deputado, Antônio S. Garcia Lopes, do PTB, decidiu criar uma promoção inusitada. Patrocinado pelos jornais O Atibaiense e Gazeta de Atibaia, o SAFA promoveu o segundo concurso, cuja pergunta era: “Qual o candidato a governador mais simpático ao eleitorado de Atibaia?” O vencedor receberia CR$ 200,00 em dinheiro — uma quantia considerável para a época. A intenção, é claro, era promover a candidatura de Hugo Borghi, que concorria a governador pelo PTB, aliado do próprio Garcia Lopes. O concurso foi amplamente divulgado, mas, curiosamente, o jornal O Atibaiense nunca publicou o resultado final. Ficamos sem saber quem foi o governador mais “simpático” aos olhos dos atibaienses, e tampouco quem levou o prêmio. Coincidência ou não, o vencedor das eleições gerais acabou sendo Adhemar de Barros, do PSP, após uma disputa acirrada com o próprio Borghi. Talvez por isso o desfecho tenha se perdido no tempo. O episódio revela muito sobre o espírito daquela época: um tempo em que até a disputa política tinha certa ingenuidade e leveza. Hoje, em tempos de campanhas eleitorais que mais parecem guerras campais, com narrativas e estratégias abastecidas com muito dinheiro, um concurso tão singelo como aquele seria impensável. A propósito, depois de milhares de pedidos (ironia), as respostas certas do primeiro concurso, citado no artigo da semana passada, e republicado acima são: 1 – Rua da Consolação, ou popularmente conhecido como Rua de Cima ou Rua Direita. 2 – Largo da Matriz, 3- Largo Alegre, 4- Joaquim Pinto de Araújo Cintra e 5 – Manancial saudável ou Rio de aguas tranquilas, agradáveis ao paladar.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.



