HISTÓRIA DE ATIBAIA: escritor André Carneiro e jornal O Atibaiense
André Carneiro teve sua iniciação literária nas páginas do jornal O Atibaiense. Foi ali, ainda muito jovem, que publicou seus primeiros artigos, despertando a atenção dos leitores pela qualidade literária e pela inteligência de seus argumentos.
Márcio Zago
Nosso maior artista, o atibaiano André Carneiro, teve sua iniciação literária nas páginas do jornal O Atibaiense. Foi ali, ainda muito jovem, que publicou seus primeiros artigos, despertando a atenção dos leitores pela qualidade literária e pela inteligência de seus argumentos. Em 1945, em meio às dificuldades provocadas pelos impactos da Segunda Guerra Mundial, o jornal enfrentou uma grave crise que quase levou ao seu fechamento.
Com a chegada de uma nova direção, O Atibaiense conseguiu se reerguer, recuperar suas vendas e iniciar uma nova fase editorial. Foi nesse contexto que André, com apenas 23 anos, passou a atuar de forma mais intensa na redação, chegando a ocupar o cargo de redator-chefe entre outubro de 1945 e outubro de 1946. Durante esse período, criou a coluna “Social” — posteriormente rebatizada como “Sociedade” —, onde publicava poemas, contos e reflexões sobre o mundo contemporâneo. Idealizou também uma segunda coluna, o “Rodapé Crítico e Literário”, voltada a temas mais polêmicos, assinada sob o pseudônimo de Norri Ace.
Nela, embora tratasse de assuntos diversos, André dava especial atenção à arte moderna, demonstrando desde cedo sua afinidade com as vanguardas. Em 1948, ao lado do amigo César Mêmolo Júnior — o Cesinha —, lançou no próprio Atibaiense o Suplemento Literário Letras e Artes, que logo passou a se chamar apenas Suplemento Literário. No ano seguinte, com a participação de sua irmã, Dulce Carneiro, o suplemento daria origem ao jornal Tentativa, um periódico literário independente que reuniu importantes escritores, poetas, artistas plásticos e intelectuais da época, com textos originais especialmente escritos para suas edições.
Hoje, o Tentativa é reconhecido como um patrimônio cultural de Atibaia, legítimo representante da chamada Geração de 45 — corrente literária que marca a terceira fase do modernismo brasileiro. Nascido em Atibaia em 9 de maio de 1922, André Granja Carneiro iniciou seus estudos na escola particular da professora Aracy Bueno Conti, concluindo o curso primário no Grupo Escolar José Alvim. Aos onze anos, ingressou no Colégio Marista Arquidiocesano, em São Paulo, mas uma doença grave o obrigou a retornar à casa dos pais, iniciando um longo período de repouso. Recuperado, não voltou ao ensino formal, optando por seguir como autodidata. Tampouco deixou Atibaia imediatamente. Aqui permaneceu por muitos anos, atuando intensamente na vida cultural, social e política da cidade. Entre as décadas de 1940 e 1970, período em que residia na cidade, além da literatura, dedicou-se à pintura, escultura, fotografia e cinema.
Seu legado é vasto e profundamente entrelaçado com a história cultural do município, sendo relembrado anualmente por meio da Semana André Carneiro, promovida por um coletivo que leva seu nome. Boa parte de sua trajetória está preservada nas páginas de O Atibaiense, jornal que, mais do que um veículo informativo, foi naquele momento também uma plataforma de expressão artística — abrigo das inovações literárias e estéticas de um grupo de jovens que buscavam extrapolar os limites geográficos e ideológicos da pequena cidade onde viviam.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.



