HISTÓRIA DE ATIBAIA – A Cultura, o Livro e a criação da primeira biblioteca de Atibaia

No final do século XIX, uma biblioteca chegou a integrar os atributos do recém-criado Clube Recreativo Atibaiano, mas a iniciativa não prosperou.

Márcio Zago

Em 1945, o escritor atibaiano André Carneiro mantinha a coluna “Rodapé Crítico e Literário” no jornal O Atibaiense, que assinava sob o pseudônimo Norri ACE. No artigo intitulado A Cultura, o Livro e Atibaia, ele esboçou, pela primeira vez, a ideia da criação de uma biblioteca na cidade — que, até então, não contava com nenhuma. A necessidade de se criar um espaço voltado ao livro e à leitura era uma antiga aspiração dos moradores de Atibaia.
No final do século XIX, uma biblioteca chegou a integrar os atributos do recém-criado Clube Recreativo Atibaiano, mas a iniciativa não prosperou. Já no início do século XX, o padre Chico retomou a ideia e fundou o Gabinete de Leitura, que teve sede própria e funcionou de forma regular por um período considerável. Outras tentativas surgiram a partir do grupo escolar e do esforço dedicado de professoras e professores da época, mas nenhuma delas teve continuidade.
Faltava, talvez, o apoio institucional necessário por parte do poder público. Na época em que André Carneiro escreveu o artigo, o contexto social e político era bastante favorável à proposta: a Segunda Guerra Mundial chegava ao fim; o prefeito municipal era João Batista Conti, um intelectual comprometido com a cultura local; e o empresariado da cidade vivia um momento de união e estabilidade com a recém-criada SADA — Sociedade Amigos de Atibaia —, entidade voltada ao desenvolvimento turístico do município. No texto, André Carneiro argumentava com clareza sobre as razões pelas quais Atibaia deveria, enfim, ter uma biblioteca: “Inútil tecer ditir ambos à cultura. Desnecessário alinhar argumentos provando sua indispensabilidade para a vitória do espírito, da inteligência, para o progresso do país, em suma. Pode-se afirmar que toda cultura acumulada pela humanidade, em séculos de civilização, acha-se transcrita e perpetuada nos livros, e estes, nas bibliotecas, estão sempre à disposição daqueles que queiram consultá-los. A cultura é acessível aos que tenham vontade de adquiri-la, extraindo-a dos livros. Mas estes custam dinheiro — e bastante, atualmente. Assim, levamos o problema à conclusão final: só poderá ter cultura aquele que, para isso se esforçar, e, se não tiver posses monetárias, desde que existam, na cidade em que residem, bibliotecas que permitam a consulta gratuita das obras. Atibaia não possui nada semelhante. (…)”.
Meses depois da publicação do artigo, André Carneiro, junto de seu amigo César Mêmolo Júnior — o Cesinha —, iniciou a formação de um pequeno acervo literário. Após inúmeros contratempos e polêmicas, esse acervo foi doado ao município, dando origem à atual Biblioteca Pública Municipal Joviano Franco da Silveira.

* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.