Como estão a inclusão e o trabalho das mulheres refugiadas?

Por Luiz Gonzaga Neto

Este também é um problema nosso e não adianta tentarmos nos esconder, meu caro leitor. Em julho, a pesquisa Moverse 2025, realizada pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), ONU Mulheres e o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), com o apoio do Governo de Luxemburgo, analisou avanços e desafios na inclusão socioeconômica de mulheres refugiadas e migrantes venezuelanas no Brasil. O estudo apontou aumento de 12% no rendimento individual e 8% no rendimento domiciliar per capita, mas destacou que barreiras no acesso ao trabalho formal e a serviços essenciais ainda persistem.
Conduzido com 1.415 respondentes, a iniciativa aponta que ações de acolhimento e integração ainda necessitam de maior articulação com outras políticas públicas, em diferentes níveis de governo, com atenção a questões que envolvem mulheres e meninas. Desde abril de 2018, mais de 150 mil pessoas venezuelanas foram realocadas para mais de 1100 cidades brasileiras.
Entre os principais resultados, destacam-se: seletividade nos critérios – homens sem filhos e com maior nível educacional têm mais chances de conseguirem oportunidades para interiorização voluntária; mulheres enfrentam mais vulnerabilidades – elas são maioria entre as chefes de famílias monoparentais e apresentam maiores taxas de desemprego e informalidade; avanços no mercado de trabalho – houve redução no tempo médio sem trabalho (de 6,7 para 4,7 meses), com destaque para a melhora da inserção laboral das mulheres ao longo do tempo, ainda aquém quando comparado ao tempo médio dos homens; educação e língua – apesar de avanços entre pessoas interiorizadas, crianças e adolescentes abrigados ainda enfrentam mais dificuldades de acesso à escola, mas a compreensão do idioma português melhorou, especialmente entre mulheres; saúde reprodutiva: cresceu o uso de métodos contraceptivos, mas persistem barreiras no acesso ao pré-natal e à prevenção de câncer entre mulheres abrigadas; e insegurança alimentar e discriminação – aumentaram entre as mulheres abrigadas e entre as pessoas interiorizadas em geral.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que a população venezuelana forma o maior grupo estrangeiro no Brasil, com 271,5 mil pessoas. A maioria das pessoas que foram interiorizadas expressa o desejo de permanecer no Brasil, evidenciando o potencial da estratégia de interiorização, desde que acompanhada de políticas públicas robustas e sensíveis às desigualdades de gênero, integradas e atentas para a inclusão social e laboral dessas pessoas.