A verdade bate à porta da infância: como falar com crianças sobre temas sensíveis?
Mas a verdade é que crianças não precisam da censura que repreende, mas de escuta, presença e verdade.
Por Anna Luiza Calixto

Assuntos como morte, separação, violência e sexualidade podem frequentar o imaginário de crianças (sobretudo na primeira infância) de forma absolutamente espontânea mediada pela curiosidade. Porém, esses são temas que costumam deixar os adultos desconfortáveis — e, por isso, muitos acreditam que o melhor caminho é o silêncio. Mas a verdade é que crianças não precisam da censura que repreende, mas de escuta, presença e verdade.
Em qualquer fase da vividainclusive na infância, poderão surgir situações difíceis e desafiadoras. Fingir que elas não existem não protégé, apenas isola. A criança percebe que algo está errado, mas não tem o repertório necessário para nomear o que sente. Isso pode gerar medo, confusão e culpa.
Quantas vezes dizemos que alguém que faleceu “virou estrelinha”?Por mais que busquemos recursos para lidar com o vazio que também nos atravessa, a transparência e sinceridade na justa medida podem ser a chave para ajudar a criança a lidar com a falta e com a saudade.
E se a criança chorar? Tudo bem. Esteja com ela. Mostre que sentir tristeza também é parte da vida, que a dor vai passar e entregue sua presença como um suporte reconfortante e seguro.
O mesmo vale para conversar sobre sexualidade e reprodução. Saber mediar esse tipo de intervenção com ludicidade e segurança será imprescindível para prevenir abusos e fortalecer a autoestima da criança que pergunta. Lembrando, é claro, que esse contato deve ser compatível com a faixa etária, o padrão de linguagem e o desenvolvimento de cada menino ou menina.
De maneira prática:
use palavras simples, mas verdadeiras.
Evite metáforas confusas. Crianças tem uma inteligência social muitas vezes subestimada.
Respeite o tempo da criança.
Ela pode não reagir de imediato e isso não precisa ser um problema. Demonstre estar disponível para quando ela se sentir pronta.
Valide os sentimentos.
Em vez de dizer “não precisa chorar” ou “shhh, não foi nada”, diga: “eu entendo que você está triste, e eu estou aqui para passarmos por isso juntos.”
Por fim, não tenha medo de dizer “eu não sei”.
A honestidade constrói confiança. Você pode acrescentar: “Mas a gente pode descobrir juntos.”
O diálogo mais uma vez emerge como ponte fundamental para uma formação respeitosa e potente. Falar sobre temas sensíveis não rouba a infância nem pula etapas, pelo contrário: fortalece vínculos, ensina empatia e mostra para a criança que ela pode confiar nos adultos ao seu redor, sem que haja necessidade de recorrer ao mundo lá for a (através da Internet, por exemplo) para buscar esse tipo de resposta.
Educar com a verdade também é preparar as crianças para o mundo e, igualmente, preparar o mundo para as crianças.



