Professor de inglês de Atibaia escreveu livro de ficção científica, colocando São Paulo como capital do mundo
Em entrevista, o autor conta que o enredo acontece no século XXII e a capital do mundo é São Paulo.
O professor de inglês Julian Leonard Bourne, que trabalhou com muitos alunos de Atibaia e região, escreveu um livro de ficcção científica, “The sonnambulists” (Os sonâmbulos), impresso em 1997, com uma capa e um título diferentes no Kindlo (“Future is another country”). O espaço da história é um destino turístico e a Europa está coberta por uma capa de gelo.
O enredo acontece no século XXII e a capital do mundo é São Paulo. O cientista Milton Mazzei está às voltas com as consequências de sua pesquisa. Está à beira de se arrepender de suas ações. Entre os locais abordados no livro, estão São Paulo, Londres, Mairiporã, Suzano e Jaçanã. A certa altura do texto, Julian cita o “pão de queijo”, referência/homenagem ao Brasil. Como o autor está passando férias em Atibaia, com a esposa Elza e o filho Thomas, antes de voltar para LIverpool, na Inglaterra, o jornal O Atibaiense pediu que respondesse algumas perguntas sobre o livro:
O Atibaiense – O primeiro capítulo se chama “The Somme”. O nome é o mesmo de cidade francesa onde ocorreu uma batalha famosa, em 1916, com saldo aterrorizante: mais de 1,1 milhão de baixas dos dois lados, entre mortos, feridos e desaparecidos. Está certa esta referência?
Julian – Sim, Somme é o rio, o vale, onde a batalha levou à perda de muitas vidas. É considerada um marco, após o qual houve um declínio, uma queda, praticamente um “suicídio” na vida inglesa. Até hoje se nota esse impacto. Na Primeira Guerra Mundial, os exércitos do Império Britânico e da França lutam contra as forças da Alemanha, o que abriria um século de dívidas. A política e a economia pioraram. Nos anos 20, o governo inglês usou de violência contra os sindicalistas. Lei foi criada também contra os jornalistas. Sabe-se que as Guerras Mundiais destruíram gerações.
O Atibaiense – O seu livro segue a ideia de que a ciência se torna perigosa quando se aventura em determinas pesquisas?
Julian – Nos anos 90, a tecnologia/ciência dava mostras de que iria consolidar o poder dos poderosos, controlar e manter – e não melhorar – a vida da população.
O Atibaiense – Você utiliza nomes de personagens que lembram o Brasil. Fez isso como uma homenagem?
Julian – Os personagens misturam características de pessoas que conheci. Eram alunos brasileiros, parentes ingleses, conhecidos. Poderiam ser pessoas do Brasil, de Liverpool, etc. Os nomes e os títulos dos capítulos reproduzem essa mistura.
O Atibaiense – Seu livro segue uma das tendências históricas da ficção científica?
Julian – Não, porque a história é baseada no Brasil, tentando mostrar outra civilização. A ficção científica costuma mostra valores americanos, os Estados Unidos sem um futuro. Por isso, não acredito que meu livro se tornará popular. A Inglaterra volta para a Idade da Pedra e as coisas acontecem no outro lado do planeta. É o contrário da ficção científica tradicional.
O Atibaiense – Por que você não continuou escrevendo literatura, mesmo que não de ficção científica?
Julian – Porque meu livro teve uma péssima recepção. Todo mundo criticou. Alunos meus compraram exemplares por algo que lembrasse o professor. Por outro lado, a tradução para o Português é difícil, pois não poderia ser literal. Em suma, meu objetivo não foi fazer sucesso comercial. O livro é, na verdade, apenas um experimento.