As mudanças no carnaval de 1940

Uma curiosidade desse período era a atenção dada aos bailes infantis, que promoviam animados concursos de fantasias, alavancados pelos generosos prêmios oferecidos às melhores caracterizações da garotada.

Márcio Zago

Segundo o jornal O Atibaiense, o carnaval de 1940 prometia ser bastante animado. No final de janeiro, a movimentação já era intensa para a pequena parcela mais animada da população, que corria contra o tempo nos preparativos carnavalescos. Os bailes teriam uma novidade em sua realização: a união entre o Clube Recreativo e o Clube de Campo de Atibaia. Uma curiosidade desse período era a atenção dada aos bailes infantis, que promoviam animados concursos de fantasias, alavancados pelos generosos prêmios oferecidos às melhores caracterizações da garotada.
O Zé Pereira, como de praxe, já ganhava as ruas de Atibaia antes mesmo do carnaval, e os cordões também se preparavam para a festa com antecedência. No Rio de Janeiro, o ano de 1940 marcou o declínio dos chamados ranchos carnavalesco, agremiações que antecederam as escolas de samba, que naquele momento ganhavam popularidade. Os ranchos tinham uma identificação maior com a classe média, enquanto as escolas de samba eram manifestações que vinham das camadas sociais mais pobres da população.
Outras mudanças também ocorriam na dinâmica do carnaval. Com o advento do rádio, novas músicas eram lançadas a cada ano, compostas especialmente para a data. Duas delas marcaram o carnaval daquele ano: “Passarinho do Relógio (Cuco)”, de Haroldo Lobo, grande sucesso na voz de Aracy de Almeida, e “Upa, upa – meu trolinho”, de Ary Barroso, na interpretação de Dircinha Batista. Para aumentar a popularidade dessas canções, as letras eram publicadas em jornais e revistas da época, e algumas caíam no gosto popular, tornando-se famosas na boca do povo. Muitas delas são conhecidas até hoje e se tornaram clássicas do gênero.
No O Atibaiense, além das duas composições mencionadas, o jornal destacou também a letra da marcha “Espanhola no Brasil”, de compositores locais. A letra era de Lucas Bernardes e a música de Pedro Cerbino. A letra era um primor e fazia referência à integração entre brasileiros e espanhóis, após o grande fluxo de emigrantes que chegaram ao país devido à Primeira Guerra Mundial e à Guerra Civil Espanhola:

Eu sei bater a castanhola,
Pois sou autêntica espanhola
Eu vim da Catalunha!
Mas não pego touro a unha
Quero aprender a cantar o samba
Quero aprender a fazer muamba
Para enfeitiçar
Quem me queira namorar!
Eu quero sambar
Batendo o pandeiro,
Misturando a castanhola
E, juntinho a espanhola,
Um mulato brasileiro.

A mudança que ocorria nos carnavais dos grandes centros urbanos do país chegava aos poucos a Atibaia. A cidade deixava para trás o carnaval acanhado praticado até então e ganhava maior descontração no reinado de Momo. Essa mudança muito se deve ao cordão “Batutas de Ouro”, uma criação dos músicos atibaienses Pedro Cerbino e Lucas Bernardes, amantes incondicionais da folia carnavalesca. Assim como os artistas de prestígio nacional, eles também compunham todos os anos as suas marchinhas. A diferença era o caráter local que essas composições traziam, onde a pequena comunidade da época se reconhecia de forma inédita, imprimindo ao carnaval uma importância jamais vista até então.