O carnaval de 1934 em Atibaia
Na semana do carnaval, as notícias alertavam que, a despeito da origem pagã, a festa também seria comemorada pelos boníssimos cristãos representados pelos rapazes e senhoritas da elite atibaiana. Os corsos e os cordões de fantasiados seriam a grande atração de rua.
Márcio Zago
Em 1934, a chamada Revolução Constitucionalista e suas frustradas consequências ficavam para trás, e a festa de Momo ganhava importância novamente. Naquele ano, o jornal O Atibaiense informava, com semanas de antecedência, que as ruas da cidade já recebiam o atraente Zé Pereira, fato que não ocorrera nos anos anteriores.
Era um prenúncio de que a festa seria grande: “Continuam percorrendo as ruas da cidade, quase todas as noites, alegres bandos do Zé Pereira (um de sócios do Clube Recreativo Operário e outro da Associação A. do Comércio), que, com as notas ensurdecedoras e onomatopeicas do Zé Pereira! Bum, bum, bum… Zé Pereira! Bum, bum, bum, bum, anunciam aos quatro cantos o delirante e já próximo reinado do riso e da folia carnavalesca.
A juventude atibaiana enche-se de ânimo, colocando-se a postos para os grandiosos bailes à fantasia, que serão realizados nos salões do Recreativo, do Comércio e da Sociedade Italiana. Visto que as tristezas não pagam dívidas, aguarde, pois, o trio do carnaval, que neste ano promete ter mais entusiasmo e adesão por parte da frígida rapaziada destas plagas do Itapetinga”. Na semana do carnaval, as notícias alertavam que, a despeito da origem pagã, a festa também seria comemorada pelos boníssimos cristãos representados pelos rapazes e senhoritas da elite atibaiana. Os corsos e os cordões de fantasiados seriam a grande atração de rua.
Nos salões, o destaque seria mais uma vez os bailes à fantasia e os bailes voltados às crianças, que incluíam um concurso de fantasia. Na mesma edição, o Prefeito Municipal Antônio Gabriel do Amaral, o Totó Alves, publicou as regras para o reinado de Momo em relação ao trânsito, salientando as pesadas multas para os carros que trafegassem com o escapamento aberto, uma moda na época.
Da Prefeitura partiu também a iniciativa de contratar a Corporação Musical 1º de Março, regida pelo maestro João Paulino dos Santos, para uma apresentação no coreto da cidade. As músicas seriam: o dobrado Alfredo Schurig; o samba Uma festa na Roça; o foxtrote Roug; a música Zé Pereira em ritmo carnavalesco; o bolero do filme A Severa chamado Santo Antônio; o cateretê Casamento na Roça; a overture (que são as introduções musicais de uma peça ou de um filme) chamada Honra ao Mérito; o maxixe Pedro na Prontidão e, no final, a música Zé Pereira novamente. Uma semana após o carnaval, O Atibaiense informou que o corso não ocorreu, como era comum desde o surgimento do automóvel em Atibaia. Seria pelo excesso de regras? Informava ainda que o carnaval concentrou-se no “footing” de pedestres na Praça da Matriz. Já os bailes carnavalescos ocorreram normalmente, assim como o baile infantil, onde duas crianças foram premiadas, um menino e uma menina.
A fantasia vencedora foi “Cantor de Jazz” para o menino e uma fantasia futurista para a menina. O cantor de jazz fazia menção ao primeiro filme onde o canto e a voz eram sincronizados em disco de acetato, um grande sucesso de 1927. Esse episódio, somado ao fato da banda musical tocar uma overture, além de uma música de filme em sua apresentação no coreto, revela a grande influência que o cinema já exercia naquela época na cultura em geral.
A matéria do jornal assim finalizava: “A nota alegre do carnaval atibaiano deu-se aos exóticos bandos de Zé Pereira e os cordões organizados pelos rapazes do Clube Recreativo Operário, pelos músicos da banda 1º de Março e pelo conjunto Pinga Fogo (o quinteto da Fuzarca), que abrilhantou os bailes realizados. Esses cordões, muito interessantes e bem ensaiados, executaram as últimas novidades em músicas e cantigas carnavalescas”. A partir daquele ano, as músicas e os instrumentistas passaram a ter importância cada vez maior nas realizações carnavalescas.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.