A retomada do teatro amador com o Centro Dramático D. Pedro II
Os primeiros ensaios ocorreram na sede da Sociedade Italiana, mas a estreia já estava agendada para acontecer no Teatro República.
Márcio Zago
Em agosto de 1930, o jornal O Atibaiense anunciou entusiasticamente a formação de um novo grupo dramático em Atibaia. Os primeiros ensaios ocorreram na sede da Sociedade Italiana, mas a estreia já estava agendada para acontecer no Teatro República.
Segundo o artigo, a cidade vivia um marasmo em razão da falta das apresentações teatrais que tanto sucesso fizeram no passado e as partidas de futebol, as sessões de cinema e os concertos no coreto da praça não bastavam para divertir a população. O texto finalizava: “Que esse grupo dramático, embora composto de amadores, tenha a sua longa e firme fase de duração – pois nossa terra já viu fazerem-se e desfazerem-se dezenas de grupos dessa natureza, muitos deles que só tiveram a satisfação do primeiro sucesso e outros que nem mesmo saíram do tinteiro…” Nas edições seguintes, de maneira elogiosa, o jornal publicou as impressões sobre os ensaios de duas peças teatrais que o grupo preparava – um drama e uma comédia.
O texto informava ainda o nome escolhido para a trupe: Centro Dramático D. Pedro II. Alguns meses depois, outra matéria anunciava a estreia do grupo com um espetáculo em benefício do São João Futebol Clube. O valor arrecadado seria para construir a cerca em volta do campo de futebol. As peças a serem apresentadas seriam “Amor Louco”, um drama em três atos, e a comédia “Atribulações de um Estudante”. No elenco, José Scapin, Celestino Della Piazza, Lamartine Fagundes, Otacílio Scapin, Carmen Lopes e Benedito Peranovich. Este último com intensa participação em diversas áreas culturais naquele período.
Após a estreia da peça, que lotou o Teatro República, o jornal O Atibaiense publicou uma crítica sobre o trabalho apresentado. Com o pseudônimo de “Observador”, o autor analisou o desempenho de cada participante, chamando a atenção para os excessos de “enxertos” praticados por um dos atores da comédia, e finalizou: “A assistência, numerosa e seleta, não poupou aplausos aos esforçados amadores. Houve, porém, um grupo, felizmente pequeno de “engraçados”, que procuraram prejudicar a representação do drama, com suas chalaças de palhaços gratuitos e nocivos, o que provocou a repulsa de todas as pessoas sensatas.
Tais indivíduos que sabem da arte e de serem críticos marca pipoca… com certeza nunca tomaram chá em crianças. Que os amadores não se desanimem com a manifestação inconsciente desses indivíduos mal comportados e prossigam na tarefa de progredir, que o inteligente povo não lhes faltará com seu concurso e aplauso”. Como se nota, o teatro sempre contou com grande aceitação por parte da elite local desde as primeiras apresentações que ocorreram na cidade por volta de 1875, no teatro improvisado do Largo Alegre.
Aceitação que se confirmou mais tarde no Teatrinho do Mercado, principalmente após a criação do Grupo Dramático Carlos Gomes, liderado pelos atores Alexandre e NievesPaganelli. Mas as reclamações sobre o comportamento de certos espectadores, formados principalmente por jovens, também acompanharam a história do teatro em Atibaia. Muitas vezes as queixas eram veementemente expressas pelas páginas dos jornais e se estendiam às apresentações circenses e exibições cinematográficas. Reclamações que permaneceram por décadas. Eram, sem dúvidas, situações desagradáveis, mas que refletiam o longo aprendizado também vivido pelos espectadores da época.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.