A cidade é território constante de mediação entre seus cidadãos
Atibaia faz 358 anos e, em manhã fria com sol, penso sobre minha experiência de cidade a partir do conceito grego da “pólis”. A cidade é território constante da mediação entre seus cidadãos. Em mobilidade, o cidadão é um, quando pedestre, e outro, totalmente diferente, quando motorista. Se ele tem um carro pequeno, é uma coisa. Se ele tem um carro grande, novo e “respeitável”, é visto de fora como mais “merecedor” de consideração. Ou seja, até no trânsito as posturas de pacificação e convivência harmoniosa são indispensáveis.
Marta Mega de Andrade, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, destaca a noção de comunidade política. Há implicações para o que se chama de vida comum (koinós). Identificamos o “público” (pólis) com o koinos (interesse comum) e o “privado” (oikos) com o idios (interesse particular). É inegável a importância do koinos para a compreensão da vida urbana, considerada mais do que simplesmente o grupo de cidadãos que “governa”, ou seja, que “pratica a pólis”.
A professora Juliana Bezerra lembra que a pólis grega representa a base do desenvolvimento do conceito de cidade tal qual conhecemos hoje. “As pólis surgem no século VIII a.C. e atingem seu apogeu nos séculos VI e V a.C. Anteriormente, as pessoas se reuniam em pequenas aldeias (comunidade gentílicas agrícolas denominadas ‘genos’) com terras de uso coletivo, as quais floresceram durante o período homérico. A expansão demográfica e do comércio foram as principais causas para o surgimento da pólis, que incluía o campo e a cidade (centro). Foram, portanto, essenciais para fortalecer a organização dos membros da sociedade”.
A pólis era controlada por oligarquia aristocrática e possuía organização própria e, portanto, independência social, política e econômica. Segundo o professor Alfredo Julien, “a pólis era formada pelo conjunto de cidadãos que se reuniam para
deliberar a respeito de suas questões coletivas. Porém, não confundir o corpo de cidadãos, que compunha uma pólis, com a totalidade da população que habitava a cidade, pois nem todos eram cidadãos, ou seja, tinham o direito de participação política. Os estrangeiros, os escravos e as mulheres não tinham direitos políticos”.
Desde então, aparentemente evoluímos.