Benjamim de Oliveira em Atibaia
Ator, compositor, cantor, diretor, escritor, produtor, ele também foi o primeiro palhaço negro do Brasil.
Márcio Zago
Na primeira década do século XX Atibaia recebeu a visita de duas sumidades circenses: João Alves e Benjamim de Oliveira. João Alves, proprietário do Circo Guarany esteve em Atibaia por várias vezes: 1908, 1913, 1916 e 1919. Nesse último com a participação de Benjamim de Oliveira. Benjamin de Oliveira foi um dos artistas mais populares do Brasil no começo do século XX, a chamada Bellé Époque Brasileira. Ator, compositor, cantor, diretor, escritor, produtor, ele também foi o primeiro palhaço negro do Brasil.
Filho de escravizados, Benjamim nasceu em Patufufu (hoje Pará de Minas-MG), em 11 de junho de 1870 e sua infância não foi nada fácil. Em razão da violência familiar que sofria aos doze anos fugiu de casa com o circo Sotero, que passava na cidade,atuando como trapezista e acrobata. Três anos após, decidiu escapar novamente, uma vez que era espancado pelo dono do circo. Caiu então nas mãos de ciganos que pretendiamvende-lo, fazendo com que escapasse novamente. Nessa vida errante passou por diversos circos até fazer seu nome.
Teve sua primeira chance como palhaço quando um artista adoeceu e não havia ninguém para substituí-lo. Benjamin então subiu ao picadeiro, mas saiu da apresentação sob fortes vaias do público. A solução foi pintar o rosto de branco para ser aceito pela plateia. No Circo Caçamba as coisas começaram a mudar. Eles se apresentavam em uma favela do Rio de Janeiro, quando o então presidente da república, Floriano Peixoto, foi ver a apresentação.
Ele ficou encantado com Benjamin de Oliveira, e transferiu o circo para o terreno em frente ao palácio do governo, na Praça da República, fazendo grande sucesso. Benjamin então passou a atuar na Companhia Spinelli, onde se tornou um astro, percorrendo quase todo o Brasil. Além de palhaço e ator foi criador de espetáculos teatrais para picadeiros, exibindo peças pelo interior do país, onde não havia salas de espetáculos.Além de adaptar grandes textos, também passou a escrever suas próprias peças teatrais. Em 1910, interpretou Jesus Cristo, com o rosto pintando, em O Mártir do Calvário.Pioneiro na discografia brasileira gravou dois discos. Embora continuasse atuando, a partir da década de 30 entrou em declínio, passando por dificuldades financeiras nos anos seguintes.Na década de 40 foi reconhecido por um grupo de turistas, em Minas Gerais, quando pedia dinheiro.
Isto acabou se tornando notícia, e por pressão da imprensa, em 1947 passou a receber uma pensão paga pelo estado.Benjamin de Oliveira faleceu no Rio de Janeiro, em 03 de maio de 1954, aos 83 anos de idade.Uma curiosidade é que Benjamim de Oliveira foi quem pela primeira vez personificou o Rei Momono carnaval de 1910, numa atuação do Circo Spineli. Benjamim também personalizaas imensas dificuldades que viviam os negros, principalmente os artistas negros, naquele Brasil ainda marcadamente escravocrata. Uma triste realidade que trazem seus reflexos até os tempos atuais. Atibaia, no período aqui citado recebeu ainda a visita de outro ícone da historiografia circense, NerinoAvanzi, oupalhaço Picolino.
NerinoAvanzi foi o fundador do Circo Nerino, conhecido como O Circo mais Querido do Brasil. Fundado em Curitiba em 1913, o circo percorreu por quase 52 anos várias vezes o país, e parte da América Latina. Sua última apresentação foi na cidade de Cruzeiro SP, em 1964. Em Atibaia o Circo Nerinoesteve em 1919, seis anos após sua estréia e obteve grande sucesso. A presença de personalidades como essas atestam a importância de Atibaia e região como aglutinadora da arte circense nas primeiras duas décadas do século XX.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.