A Congregação do Canto de Atibaia
No ano de 1914 é atribuída a fundação do coral São João, mas a matéria do O Atibaiense não fazia qualquer referencia ao coral.
Márcio Zago
Em maio de 1916 o jornal O Atibaiense publicou uma matéria anunciando a fundaçãoda Congregação do Canto. O grupo formado pelo vigário da paróquia, o Padre Chico, tinha a proteção de São João Batista e Santa Cecília, lembrando que Santa Cecília é a padroeira dos músicos e dos cantores.
ACongregação tinha a função de integrar as solenidades do culto religioso da igreja da matriz através do canto litúrgico.É sabido que a igreja da matriz já contava neste período com a participação de Dorothea Ferraz, Ana Urieste Caparica e Antônio da Fonseca Ramos como músicos acompanhantes das missas. No ano de 1914 é atribuída a fundação do coral São João, mas a matéria do O Atibaiense não fazia qualquer referencia ao coral.
E aqui cabem algumas dúvidas: será que não existia coral na igreja até aquele momento? Será que o coral só passou a existircom a Congregação do Canto? Se já existia porque não foi utilizado o nome coral São João, ao invés de Congregação do Canto?Seria o coral São João continuidade da Congregação do Canto, uma vez que este nome não apareceu mais nos artigos seguintes? Voltando ao Atibaiense… Além de anunciar sua fundação, matéria do jornal convocava todas as mulheres a integrar a novaassociação,que já dispunha de estatuto e regramentos, mas impunha a condição de ter “voz, ou habilidade musical” as postulantes.
Dos nomes citados Dorothea Ferraz teve ativa participação nas realizações musicais da Igreja da Matriz naquele período. Descendente de Manuel Jorge Ferraz, Dorothea morou por anos ao lado da irmã Cristiane e Júlia no sobrado em frente à igreja, o Casarão Júlia Ferraz. Ana Urieste Caparica, conhecida como Dona Nhanhã, também era moradora do Largo da Matriz. Regente e professora de piano formada no Conservatório Dramático Musical de São Paulo, fez curso de especialização com o maestro Souza Lima e também teve intensa participação na formação musical de muitos atibaianosa partir daquele inicio de século XX.
Antônio da Fonseca Ramos, o mestre Fonseca, como era conhecido era paraibano de nascimento, mas muito jovem transferiu-se para Atibaia, indo morar no Largo do Mercado. Foi o criador da Banda 24 de Maio e bastante atuante nas celebrações da Igreja da Matriz, onde também exercia a função de sacristão no período do Padre Abel. O mestre Fonseca faleceu em 1916, um mês antes da inauguração da Congregação do Canto e sua regência foi substituída pelo filho Juvêncio Maciel da Fonseca. A Congregação do Canto tinha o padre Francisco Rodrigues dos Santos como grande incentivador.
O Padre Chico, como era carinhosamente tratado, era natural de Nazaré Paulista chegandoa Atibaia no ano de 1914 e aqui permaneceu por quase duas décadas, período em que ganhou a confiança e admiração da cidade. Foi um período muito difícil, que incluiu duas grandes tragédias: a Primeira Guerra Mundial, tratada na época de Grande Guerra (1914 a 1918), e por consequência a Gripe Espanhola (1918 a 1920). Padre Chico teve intensa participação na vida comunitária atibaiananesse período.
Sua contribuição ia muito além do conforto religioso. Padre Chico trabalhou na linha de frente ao atendimento dos inúmeros doentes da epidemia. Ao lado de José Aguiar Peçanha, Aprígio de Toledo e do então Prefeito Benedito de Almeida Bueno, formaram uma comissão para tratar especificamente da tragédia epidêmica que se abateu sobre Atibaia, priorizando a ajuda aos mais pobres.
Na revolução paulista de 1924 prestou solidariedade aos refugiados e esteve à frente da campanha de arrecadação de valores na revolução de 1932. Padre Chico também foi responsável pela grande reforma que passou a Igreja do Rosário num momento em que ela estava prestes a ruir. É dele também a criação do Gabinete de Leitura, a primeira biblioteca de Atibaia, além do citado coral São João, grupo musical que foi extinto em 1934, um ano após deixar a cidade e se estabelecer na paróquia de Bragança Paulista, para onde foi transferido. Mais tarde deixou o magistério sacerdotal e se casou com Isaura Mariano Cardoso dos Santos. Faleceu em Avaré, em 1960.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.