Extrema-direita domina o campo conservador e vai continuar como “player”
E essas situações só se agravaram nos últimos anos, em nível nacional, como se viu até aqui, em plena campanha para as eleições 2022.
Wagner Casemiro
O protagonismo da extrema-direita no campo conservador, tanto no Brasil como em outros países, surpreende observadores da política, mas não os cientistas políticos, que estudam mais profundamente a história, a sociologia e a economia antes de tirar conclusões precipitadas. Olhando do ponto de vista de Atibaia, vi esse avanço quando, como chefe de gabinete do presidente da Câmara Tiãozinho da Farmácia, constatamos o comportamento agressivo de militantes, tanto presencial no plenário quanto nas redes sociais. E essas situações só se agravaram nos últimos anos, em nível nacional, como se viu até aqui, em plena campanha para as eleições 2022.
Como muitos jovens, conscientes de sua negritude e de suas origens sócio-econômicas, cultivei um pensamento de esquerda, que compartilhei até mesmo com lideranças ambientalistas. Depois, caminhei para experiências, como dirigente político, professor e servidor público (hoje ocupando o cargo de secretário municipal de Habitação), que me conduziram para uma atuação no espaço identificado com o pensamento de centro-direita. Não é um abandono da ideologia, mas uma atuação mais pragmática no jogo político, respeitando os princípios do companheirismo, da lealdade e da transparência. Na passagem do governador de São Paulo por Atibaia, neste mês de setembro, participei do apoio político, na parte técnica de relacionamento com a Prefeitura e também como suporte à candidatura de reeleição pelo PSDB.
Para muitos, esse pragmatismo é eleitoreiro, mas sempre destaco o fato de que foi, até aqui, o PSDB que nos possibilitou avanços importantes na regularização fundiária e nos projetos de novas unidades habitacionais, graças ao bom relacionamento com a Secretaria de Estado da Habitação. Claro que o prefeito Emil Ono terá de ser pragmático e conversar diretamente com o novo governo estadual, que tomará posse em 2023, independente de cor ideológica, de continuidade ou não da sigla que vem governando o Estado há cerca de 20 anos. Quanto ao governo federal, a lógica é similar: Atibaia precisa conversar bem com o novo mandatário, esteja ele à direita ou à esquerda no espectro político, reconhecendo que a extrema-direita domina hoje o campo conservador e vai continuar como “player”.
A união das forças democráticas, em que incluo os progressistas de centro-esquerda, os liberais e parte da direita conservadora (aquela que reconhece a dívida social do país com os mais pobres), será decisiva neste momento histórico, que irmana o município de Atibaia ao Estado e à Nação. Segundo a cientista política Camila Rocha, que ganhou o prêmio de melhor tese de doutorado pela Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) e é pesquisadora do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), a nova direita comporta desde o fenômeno do bolsonarismo a organizações da sociedade civil, como o Movimento Brasil Livre (MBL) e Vem Pra Rua, e partidárias, a exemplo do Partido Novo. Esses grupos são diversos entre si e têm pontos de convergência e divergência, com aproximação sobretudo em questões econômicas e distanciamento quanto ao legado da ditadura militar, tanto por conta do autoritarismo como pelas políticas econômicas nacionalistas e estatizantes.
Há muito o que compreender sobre essas contradições, enquanto jogamos a melhor partida político-partidária possível em campo.
* Wagner Casemiro é Secretário Municipal de Habitação de Atibaia, Professor Universitário Especialista em Administração, Contabilidade e Economia e Representante do CRA – Conselho Regional de Administração Atibaia.