Caiapós

Marcio Zago*

É um folguedo formado por grupos de homens trajados de índios com cocares, arcos e flechas. Apresentam-se alinhados dois a dois numa dança-cortejo, tendo à frente o cacique, que leva a tiracolo uma buzina de chifre. O objetivo é realizar uma dramatização do embate entre os bandeirantes e os índios. As evoluções são comandadas pelo mestre, que usa um apito. Além do cacique, o curumim (ou caboclinha) é um personagem importante, que na dramatização finge estar sendo raptado e perseguido por inimigos brancos e tomba morto. Os companheiros cercam o indiozinho e dançam, enquanto o chefe age como um pajé, defumando e dançando a seu redor, até ressuscitá-lo.
Em seguida, todos se deslocam, repetindo a cena em outro local. A descrição acima é uma das dramatizações. Existem outras em diferentes cidades que possuem grupos de Caiapós, mudando também o instrumental utilizado. No livro “Atibaia Folclórica”, de 1950, João Batista Conti dedica um capítulo aos Caiapós de Atibaia e faz a seguinte referencia a essa dramatização: “Pelo Natal, cujos festejos em Atibaia duram quatro dias, aparecem, ainda hoje, as congadas e as cavalhadas, mas em outros tempos vinham também os caiapós;grupos de homens vestidos de índios que, formados de dois em dois, percorriam as ruas da cidade numa dança peculiar, acompanhados de instrumentos rústicos. Assim dançando e, de distancia em distancia, voltavam para cortejar o cacique dando, no compasso da buzina, um clássico pulinho, que muito caracterizava sua dança. Na sua marcha, se por ventura aparecia um cavaleiro, um trole, ou um automóvel, era, pelo chefe dadoum sinal de alarme e todos se atiravam ao chão, apontando com o arco o “fantasma” e só se levantavam depois de novo sinal do chefe. Tudo isso, porém, de maneira mais pacífica e divertida possível”.
O jornal “O Atibaiense” registrava a existência desta manifestação desde o inicio do século XX, quando informava sobre a participação de grupos de caiapós nas festividades locais, mas eles não eram de Atibaia, vinham de cidades vizinhas. Somente em 1914 a cidade monta seu primeiro grupo, por iniciativa de Cornélio Pedro d’Arboes. Em fevereiro daquele ano o jornal publicava: “Fomos informados, por comunicação especial, que o bando de índios “Cayapós”, pretende estrear-se nas ruas de nossa cidade no primeiro dia de carnaval. Agradecemos ao Sr. Cornélio Pedro d’Arboes, diretor do respeitável bando caia polístico, conforme nos escreveu, a sua gentil participação e desejamos-lhes sucesso”. Segundo João Batista Conti, Pedro d’Arboes, ou Nhô Cornélio, como era conhecido, era um tipo popular, compenetrado e muito vaidoso. “Quando os seus súditos voltavam para cortejá-lo ele os recebia com ares empavonados, dando a ideia perfeita de que era um chefe, e chefe de verdade. Sua vestimenta era idêntica a dos outros, porém com mais penas, maiores enfeites e levava consigo uma buzina”.
No instrumental do grupo de Atibaia havia uma espécie de tamanco, isto é, uma pequena tábua com um couro, que eles vestiam nas mãos e batiam de acordo com a música, além de uma caixa, uma zabumba e a buzina do chefe. No final do capitulo dedicado ao caiapó,João Batista Conti finalizavao texto num lamento:” Hoje, desapareceram, relegados ao olvido, para darem lugar a novos costumes que, infelizmente, são trazidos por sua “excelência” a civilização e nós, reverentes, nos curvamos para esquecer o que é nosso”.Se em Atibaia essa manifestação foi extinta há muito tempo, em cidades vizinhas,felizmente, resistem firmes e fortes, como em Piracaia.

* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.