Os primeiros filmes exibidos em Atibaia
Aparelho era movido manualmente por uma manivela e com três funções.
Marcio Zago*
Dia 05 de julho de 1903 marca o inicio do cinema na cidade. Data histórica,quandoa elite local toma seu primeiro contato como a técnica e a arte de fixar e reproduzir imagens com ilusão de movimento. O encontro se deu no “Teatrinho do Mercado”, que ficava onde hoje estáo estacionamento do Mercado Municipal, ao lado da Praça Aprígio de Toledo. A estreia se deu, como em muitas outras cidades, através das companhias itinerantes que circulavampelo país. O anuncio publicado no jornal “O Atibaiense” chamava a atenção para a palavra “cinematógrafo”, o projetor da época.
O aparelho era movido manualmente por uma manivela e com três funções: filmar, revelar e projetar. Era portátil e pesava menos de 5 kg, não precisando de eletricidade. Essa versatilidade foi uma das características que ajudaram a difundir rapidamente o cinema em todos os lugares. Especificamente nesta data é possível saber quais filmes foram exibidos no “Teatrinho do Mercado”: “O Enterro de Humberto 10”; “Os Bombeiros Apagando um Incêndio no Rio de Janeiro” e “A Chegada de um Trem e o Desembarque dos Passageiros”. Dos três, este último marca também o inicio da cinematografia mundial.
Este filme foi o primeiro a serutilizado numa projeção pública pelos irmãos Auguste e Louis Lumière, em 28 de dezembro de 1895, no Teatro Eden, sudoeste da França. Com exceção do exemplo anterior, nos primórdios da sétima arte o nome dos filmes não tinhamtanta importância. Os anúncios do jornal “O Atibaiense” se referiam mais ao conteúdo geral das fitas e a qualidade e nitidez do equipamento do que o título do filme. O cinema, até então, atraía os espectadores como um meio em si. O impacto de ver imagens “reais” projetadas numa parede ou tela, sempre em grandes formatos, já eram suficientes para causar grande comoção ao público. A necessidade de se contar uma história (daí o título) veio pouco depois com a gradativa saturação dessa forma de exibição e dodesenvolvimento da linguagem.
No inicio os filmes eram mudos, sendo mais tarde acompanhadas por músicos que tentavam dar uma ambiência às projeções. Em Atibaia este fato provavelmente se deu com o “Recreio Cinema”. É o que sugere uma pequena nota do jornal: “A orquestra esteve acima de nossas expectativas. Segundo informações que nos ministraram, foram por ela ensaiadas belíssimas valsas e polcas adequadas ao cinema. O quinteto que se exibiu nestas últimas noites é preferível à música que costuma nos deliciar nas noites de espetáculos”. A nota leva a crer que antes do quinteto havia outra forma de se “deliciar nas noites de espetáculos”. Seria o acompanhamento de outro musicista? Como se dava este outro acompanhamento? Nada disso fica claro no vasto material pesquisado.
Cabe ao leitor seguir os passos de qualquer obra cinematográfica de qualidade: Recriar os espaços deixados nas entrelinhas do roteiro… Fato que imprime ao cinema a magia que sempre cativou eencantou seus amantes, desde suas primeiras exibições.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”. Criador e curador da Semana André Carneiro.