Cantareira entra na faixa de restrição e Atibaia pode ter problemas com captação de água
Caso nível do sistema continue caindo, pode ocorrer queda de vazão, o que prejudica a captação feita no Rio Atibaia para a Estação de Tratamento de Água Central. Foto divulgação
O Atibaiense – Da redação
O Sistema Cantareira entrou em faixa de restrição nessa quarta-feira (3), quando o nível chegou a 28,5%. Na quinta (4), nível permanecia no mesmo patamar. As faixas de restrição são definidas pela Agência Nacional de Águas (ANA). Queda pode afetar a vazão do sistema, o que poderia ter consequências na captação de água que a SAAE faz no Rio Atibaia para a Estação de Tratamento Central.
Ao todo, são cinco faixas definidas pela ANA, as quais orientam os limites de retirada de água do sistema. A faixa de restrição é definida quando o sistema fica acima de 20% e abaixo de 30%. Oficialmente, a ANA considera o último dia do mês anterior para definir o volume de água que a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) poderá retirar no mês seguinte.
Ao longo de outubro, por exemplo, a faixa era de alerta porque o mês de setembro terminou com 30,4%. Nesse grupo, a retirada pode chegar a 27 metros cúbicos por segundo (m³/s). Na faixa normal, a Sabesp pode retirar 33 m³/s. A faixa mais restritiva é a especial, quando o limite de retirada é 15,5 m³/s;
A Sabesp alega que, na prática, a nova faixa não altera a operação, tendo em vista que a companhia já opera há um ano com retirada de até 23 m³/s, porque esse volume atende a demanda. Mas mesmo que não haja uma mudança imediata, a classificação é um alerta. Caso o Sistema Cantareira tenha diminuição ainda maior no volume, a Sabesp pode diminuir a vazão que vai para os rios, incluindo o Atibaia.
A vazão do Rio Atibaia obedece a uma Resolução Conjunta da ANA e DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica). O controle da vazão é feito de acordo com as condições de armazenamento do Sistema Cantareira, o período hidrológico do ano e as faixas estabelecidas. Isso significa que a SAAE tem um limite de volume de água que pode retirar do Rio Atibaia para o abastecimento da cidade.
O nível de água liberado pelo Sistema Cantareira interfere diretamente na captação hidrológica da cidade. Se houver uma redução de vazão, por exemplo, pode haver problemas na captação, já que o volume de água do Rio Atibaia depende do regime de liberação do Sistema Cantareira. Apesar de receber contribuição ao longo de seu trajeto, o rio depende bastante da quantidade de água liberado.
Em janeiro de 2015, quando o Estado de São Paulo passava pela crise hídrica, Atibaia decretou “estado de emergência”. O decreto publicado à época tinha como objetivo reforçar a campanha contra o desperdício de água, envolvendo toda a população, e também permitir ao município tomar medidas rápidas e efetivas que evitassem o colapso do sistema público de abastecimento. O decreto foi necessário porque a vazão do Rio Atibaia estava muito baixo na época.
Meses antes, em abril de 2014, a SAAE realizou uma obra preventiva de recuperação e proteção da margem direita do Rio Atibaia, na altura da Estação de Captação de Água (bairro Terceiro Centenário), a fim de manter os níveis do rio adequados para captação de água.
Durante a crise hídrica, que começou em 2014, o nível do Cantareira chegou a operar no chamado “volume morto”. No dia 4 de novembro de 2014 o nível era de -17,3%. Um ano depois (novembro de 2015), chegou a -12,8%.
No ano que antecedeu a crise (2013), em 4 de novembro o volume era de 35,8%. Vale lembrar que nesta quinta-feira (4 de novembro), o volume chegou a 28,5%, menor que o período pré-crise de 2014.
As chuvas mais intensas em outubro geraram a falsa impressão de que tudo está voltando ao normal e que não há riscos de falta de água. Mas o nível do Cantareira mostra que essas chuvas não estão sendo suficientes para compensar as perdas do sistema.
No caso de Atibaia, é fundamental que a população mantenha a conscientização sobre o uso racional e procure economizar. A captação do Rio Atibaia pode depender da vazão liberada pelo sistema, o que no passado mostrou ser necessário adotar medidas mais drásticas e restritivas. A captação no Córrego do Onofre vem sofrendo há mais de um ano com problemas, sendo necessário em alguns momentos transferir água do sistema Central para a estação de tratamento do Cerejeiras.
A superintendente da SAAE, Fabiane Santiago, comentou em entrevista a O Atibaiense no início de outubro que o abastecimento feito pelo córrego foi afetado pela baixa no nível da água e que foi necessário transpor água da ETA Central. Mas a cidade opera no limite do que pode ofertar, por essa razão, se é feita a transposição de água para a outra estação, a ETA Central acaba não tendo condição de abastecer a 100% da população. A solução seria o rodízio e, mais drasticamente, o racionamento.