O primeiro teatro de Atibaia. Sim, Atibaia tinha teatro!
O primeiro Teatro de verdade, com todas as características dessa função surgiu em 1884, onze anos depois, por iniciativa do jovem Juvenal Alvim.
Márcio Zago
Por volta de 1875, na atual Praça Bento Paes, estava localizado o primeiro espaço cultural de Atibaia. Pela descrição de Waldomiro Franco da Silveira se tratava de uma casa adaptada às funções culturais (assunto publicado no Atibaiense do dia 27 de fevereiro de 2021). O primeiro Teatro de verdade, com todas as características dessa função surgiu em 1884, onze anos depois, por iniciativa do jovem Juvenal Alvim, na época com dezoito anos. O local escolhido foi um prédio localizado nos fundos do Mercado Municipal, onde hoje é à entrada do estacionamento, ao lado da Praça Aprígio de Toledo.
O prédio foi construído com a intenção de abrigar a Santa Casa local. Iniciativa do Juiz Municipal Antônio Bento de Sousa e Castro,importante abolicionista que atuou na cidade entre 1871 a 1874, numa gestão tumultuada e abreviada em função de seus posicionamentos políticos.
Após um atentado sofrido em 1873, Antônio Bento deixa a cidade no ano seguinte parando a construção, que sem uso permaneceu por mais de uma década. Para aproveitar o prédio e viabilizar o projeto de prover o município com um espaço cultural, Juvenal Alvim promoveu uma campanha entre os amigos visando arrecadar recursos para reformar a adaptar a construção para as funções teatrais. Carinhosamente chamado de “teatrinho”, o espaço ficou pronto meses depois e tornou-se importante aglutinador das iniciativas culturais do município entre o final do século XIX e inicio do século XX.
Num artigo de 1904 um antigo morador de Atibaia escreve ao jornal “O Atibaiense” suas lembranças sobre a cidade, descrevendo assim o espaço: “O teatrinho comporta elevado número de espectadores. Sua caixa e bastidores são bem acabados. Seu corpo cênico é bem organizado, notando-se um esmerado jogo cênico. Razão porque felicito o seu diretor de cena, o Senhor Alexandre Paganelli. Sob a direção dos provectos e dedicados mestres, senhores capitão Salles Bastos e o tenente Juvêncio Fonseca, acha-se incorporada a essa inédita associação uma orquestra que funciona debaixo da batuta do primeiro, de cuja batuta parece sair o maravilhoso som orquestral repercutindo no belo acústico. Aos ilustres professores, ao corpo cênico e ao grupo de rapazes do progresso, eu deixo minhas sinceras felicitações e com eles a minha eterna gratidão pelas gentilezas de que fui alvo”.
Alexandre Paganelli, citado no texto, é um nome de destaque da cena teatral de Atibaia da primeira década do século XX e será citado inúmeras vezes nas matérias seguintes.
É o caso também de Salles Bastos e Juvêncio Fonseca, músicos atuantes em várias áreas artísticas e que também deixaram suas contribuições ao teatro no município pela atuação junto à orquestra que acompanhava as peças teatrais. Em relação aos “rapazes do progresso”, o autor se referia ao Grupo Dramático Carlos Gomes, responsáveis pelas encenações que popularizaram o teatro local. Assunto para os próximos artigos.
Márcio Zago é artista plástico e artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”. É criador e curador da Semana André Carneiro.