Mídia tenta entender mudanças climáticas e ambientais
A ong MSF entende que as mudanças climáticas são uma preocupação global, do ponto de vista da saúde e da ajuda humanitária.
Luiz Gonzaga Neto
Com a pandemia entrando em seu segundo ano, agravado, a mídia se concentrou ainda mais no acompanhamento da crise sanitária, seus números aterradores e as perspectivas restritivas. Em outro front, as mudanças climáticas e ambientais continuam chamando a atenção de quem trabalha no segmento. Organizações como a ong Médicos Sem Fronteiras se defrontam com emergências e contextos humanitários e os comunicadores precisam acompanhar essas mobilizações. E haja tempo para tudo isso!
A ong MSF entende que as mudanças climáticas são uma preocupação global, do ponto de vista da saúde e da ajuda humanitária. Condições climáticas extremas afetam o acesso a água e alimentos, alteram padrões de doenças e provocam movimentos migratórios desproporcionais. As organizações humanitárias enfrentam novos desafios na mesma medida em que o aquecimento global aumenta o sofrimento no mundo todo. A MSF está acompanhando de perto o impacto que as mudanças climáticas terão sobre suas atividades médico-humanitárias de emergência e a vida das populações que atende.
São três os contextos mapeados pela organização. O primeiro é delineado pelos desastres naturais. Eventos climáticos extremos como chuvas fortes, ondas de calor, ciclones e inundações serão mais frequentes e intensos, dizem os especialistas. Os padrões alterados de precipitação aumentam o risco de enchentes, resultando em prejuízos diretos, propagação de doenças infecciosas e impactos na saúde mental.
“A escala dos danos causados por desastres como ciclones consecutivos foi um alerta para nos prepararmos para mais ciclones tropicais de alto impacto, inundações costeiras e chuvas intensas ligadas a mudanças climáticas, segundo comunicado da Organização Meteorológica Mundial (WMO), agência da ONU”, diz Avril Benoît, diretora-executiva de MSF nos Estados Unidos. O segundo contexto é configurado pelas epidemias. “Está cada vez mais claro que as mudanças climáticas têm impacto negativo na saúde humana. As epidemias estão aumentando, tanto em número quanto em extensão. Doenças sazonais aparecem de forma irregular. Países são afetados por moléstias que já não existiam há muito tempo e para as quais não estão preparados”, afirmou Carol Devine, assessora de MSF para assuntos humanitários, que realiza pesquisas sobre saúde global na Universidade de York, em Toronto.
Como efeito do desmatamento, hoje são registrados casos de malária em lugares onde antes não havia, porque o mosquito agora consegue sobreviver. Também aparecem em escala maior surtos de doenças transmitidas por vetores, como zika ou dengue, em ambientes urbanos. Outro exemplo é que, quando a temperatura da água aumenta, a bactéria causadora da cólera pode sobreviver mais facilmente. Existe também o fator água: mudanças climáticas podem provocar seca, o que, por sua vez, leva à escassez de alimentos e ao aumento dos níveis de desnutrição.
O terceiro contexto é o dos refugiados climáticos. Os choques relacionados às mudanças climáticas impulsionam a mobilidade humana. Isso se aplica a eventos repentinos, como desastres naturais, mas também a fenômenos mais lentos, como secas e degradação ambiental. Com o tempo, as pessoas começarão a deixar suas casas, ao constatarem que ficarão sem seus meios de subsistência e/ou que alguns lugares se tornarão inabitáveis.
“Aqueles que se mudam por causa do clima não têm direito a asilo e são frequentemente classificados como migrantes econômicos. Muitos países implementaram uma política de migração cada vez mais restritiva e, uma vez que o acordo-quadro global sobre migração não é vinculativo, os países não são obrigados a segui-lo”, explicou Linn Biörklund Belliveau, que integra o grupo de trabalho de MSF sobre clima. Encerrando por aqui, digo que olhar para o planeta ajuda a entender melhor o que vivemos aqui no Brasil.
* Luiz Gonzaga Neto é jornalista, analista em comunicação da Câmara de Atibaia e blogueiro, autor de brincantedeletras.wordpress.com. Esta coluna pode ser lida também no site do jornal O Atibaiense – www.oatibaiense.com.br.