Clube de Atibaia e Clube de Bragança
Tratava-se de uma troca de gentileza entre o Club Recreativo Atibaiano e o Club Literário Recreativo Bragantino, fundado em 1894, época áurea dos Barões do Café. O Club Recreativo Atibaiano foi fundado três anos depois, em 1897.
Márcio Zago
Em 1902 as páginas do jornal “O Atibaiense” registraram um evento que contribuiu para amenizar a rivalidade existenteentre as cidades de Atibaia e Bragança (emancipada de Atibaiaem 1856). Tratava-se de uma troca de gentileza entre o Club Recreativo Atibaiano e o Club Literário Recreativo Bragantino, fundado em 1894, época áurea dos Barões do Café. O Club Recreativo Atibaiano foi fundado três anos depois, em 1897.
De origens e propostas semelhantes às duas agremiações se reuniram no inicio do século XX visando estabelecer trocas sociais e culturais entre seus membros. A primeira visita foi do Club Literário ao Recreativo. O comboio de Bragança chegou às quatro horas da tarde na estação ferroviária, ocupando três vagões da locomotiva, quando foram recepcionados com banda de música e rojões.
Uma comitiva do Club Recreativo já aguardava sua chegada, acompanhando os visitante sem solene préstito pelas ruas da cidade, estandarte em punho, até a sede do Recreativo, no centro da cidade. O transporte foi realizado por inúmeros troles, que durante o trajeto eram saudados pelas pessoas que, das calçadas e janelas, acenavam alegremente para o desfile.
No Recreativo grande números de sócios já aguardavam a chegada dos visitantes formando alas, por onde passaram os bragantinos. Já no interior do Club foi ofertado um delicioso copo de água (Segundo o memorialista Renato Zanoni, ofertar um copo de água em reuniões e festas solenes era comum na época). Depois do merecido descanso, os visitantes acompanharam uma solenidade religiosa na igreja matriz, e, ao anoitecer, participaram de um jantar oferecido pelo Hotel Central.
Às oito da noite se reuniram novamente no Club Recreativo, de onde saíram para mais um “préstito cívico” pelas ruas da cidade. Desta vez acompanhada pela filarmônica de Bragança, que integrava a comitiva. De volta ao Recreativo os visitantes foram homenageados com novas honrarias e discursos, tendo em seguida um animado baile. A meia noite estava encerrada as festividades. Novo desfile dos visitantes até a estação ferroviária, onde um trem já aguardava a exausta comitiva para levá-los de volta a Bragança. Quatro meses depois foi a vez de o Club Recreativo visitaro Club Literário.
A programação foi quase idêntica, exceto a recepção com o Hino Nacional e a sessão literária ocorrida à tarde, nas suntuosas dependências do Club Literário, onde se discorreu sobre o indígena brasileiro, a indústria, o comércio, a instrução pública, a República, o Estado, etc. Os atibaianos saíram da visita encantados pelo tratamento recebido e pela elegância do jantar ofertado. Um destaque desse eventofoi à importância dada aos estandartes, fato comum naquele período.
O Club Recreativo utilizou neste dia um estandarte novo, mandado fazer em São Paulo por iniciativa de Aprígio de Toledo, com fios de ouro sobre cetim, e devidamente benzido em solenidade religiosa ocorrida na igreja matriz. Nota-se o imenso valor simbólico dado ao objeto nessa época, a ponto da função “Porta Bandeira” e “Porta Estandarte” fazer parte dos quadros da diretoria de muitas agremiações. Por exemplo,da Sociedade Italiana do Mútuo Socorro, fundado em 1902, que na gestão referente ao ano de 1904, além das funções de Presidente, Vice-presidente, Tesoureiro e outros, tinhamainda “Porta Bandeira” e “Porta Estandarte”. No caso Antônio Malozzi e Garbin Valentin, respectivamente.
Márcio Zago é artista plástico e artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”. É criador e curador da Semana André Carneiro.