Somos todos viciados digitais. Mas tem remédio?

Não é a primeira vez que escrevo sobre o vício em internet. Parece óbvio, tanto que não paramos no dia a dia para observar e tentar encontrar uma solução. “A sensação é de que somos todos viciados — mas nem todos os casos são de dependência extrema e pequenas atitudes podem prevenir esse quadro”, anunciou em artigo Mariana Payno. Qual é a fronteira entre o uso desmedido e o diagnóstico real de dependência da internet?
Mesmo não sendo reconhecido pela Organização Mundial de Saúde, o Transtorno de Vício em Internet é identificado pela Associação Americana de Psicologia como uma dependência análoga à de substâncias como álcool e drogas. Estima-se que 50 milhões de pessoas no mundo sofram dele; no Brasil, esse número pode chegar a 4,3 milhões, já que somos o terceiro país no ranking de horas diárias gastas na internet — em média, os brasileiros passam nove horas e 17 minutos por dia navegando online.
Payno acrescenta que a dependência em internet se bifurca por várias abas: games, redes sociais, compras, pornografia, bolsa de valores e sites de aposta. Estas são algumas das atividades que podem prender o usuário à rede por horas a fio. Se há sacrifício de atividades básicas do dia a dia para permanecer conectado, é hora de levantar uma bandeira vermelha. “Precisamos ter pelo menos três características: um padrão de alto envolvimento, prejuízos sociais, acadêmicos ou profissionais e sintomas de abstinência”, explicou Fernanda Calixto, doutora em psicologia e pesquisadora no Paradigma, Centro de Ciências e Tecnologia do Comportamento.
A plataforma de conteúdo Contente.vc, criada pela jornalista Daniela Arrais, propõe reflexões sobre uma vida digital mais atenta e consciente. Nos Estados Unidos, há clínicas especializadas no tratamento dos vícios digitais, em grande parte relacionados a quadros de ansiedade e depressão.
O vício é sorrateiro. Parte do problema é justamente essa: ao toque do dedo, temos milhares de estímulos para ocupar cada segundo do nosso tempo livre — e não exatamente de uma forma saudável. Conscientizar-se é o primeiro passo.

Por Luiz Gonzaga Neto