Uma breve história de Atibaia – A presença dos Pires no arraial
Foto da Santa Casa de Atibaia
por Renato Zanoni (In merorian)
Fernão Dias Paes Leme, em 1674, era o mais rico paulista, amigo e protetor da família Pires. Aos 67 anos partia com uma bandeira a realizar seu sonho, encontrar esmeraldas. Aos 21 de junho saiu com a bandeira levando seus filhos, Garcia Rodrigues Paes e José Dias, que ele arrumara fora do matrimônio. A bandeira fez pouso no Arraial de São João Batista de Atibaia (1).
Nesse tempo, no Arraial a calma só era alterada com a chegada de algum almocreve (2) com suas mulas ou a passagem de uma bandeira, que punha o Arraial em polvorosa. Cada manhã que Jerônimo de Camargo abria a janela com vista da Serra, bendizia a Deus e parecia que o paraíso no Arraial renascia.
Em 1676, um genro de João Pires, chamado Godói Moreira, veio residir no Arraial. Jerônimo não tinha malquerença com ele, mas preferia não ter por perto alguém da família Pires. Previa repartir o mando com eles. Haveria de encontrar uma solução para que o Arraial não ficasse sob a influência dos Pires.
Filosofou por vários dias sem encontrar uma solução pacífica, deveria por em prática um plano que subtraísse, pelo menos, o brilho administrativo dos Pires.
Não pode de imediato dar início a algum projeto. Outras preocupações pairavam sobre o Arraial, a formação de quilombos de escravos fugidos. Nas terras de domínio de Jerônimo, serra essa que foi desbravada pelos irmãos Gil, então chamada de Serra do Gir, tinha formado um Arraial de quilombolas. No bairro Caioçara, alguns escravos também se refugiaram na mata.
No ano de 1679, Jerônimo, por fim, executou seu plano. Mandou construir uma capela, de grande dimensão, de barro amassado entre taipas, à moda do Alentejo, que foi graciosamente caiada de branco e coberta com largas telhas. Depois de ter a capela mobiliada e cercado o adro com grades, preparou-se para viajar no início do ano vindouro.
1 – Nos estudos dos historiadores existe divergência quando a passagem de Fernão Dias por Atibaia, alguns, entende que ele ganhou o sertão passando por Taubaté.
2 – Almocreve: homem cujo ofício era conduzir cargas em mulas; tropeiro que se destinasse a levar encomendas.