HISTÓRIAS DE ATIBAIA – Serviço de Alto-Falante de Atibaia surgiu em 1946
Nessas camadas populares, o hábito de ouvir rádio acontecia de forma coletiva em vários locais. Nesse contexto surgiu a “Rádio Propaganda de Atibaia”, um serviço de alto falante instalado na Praça Claudino Alves por iniciativa do senhor Sebastião Bueno.
Márcio Zago
Na década de 1940, o rádio já se firmava como um dos principais meios de comunicação do país, mas o aparelho radiofônico ainda era considerado caro para a grande maioria da população. Seu acesso era mais comum nas cidades maiores e entre famílias de classe média, permanecendo restrito aos trabalhadores de baixa renda. Nessas camadas populares, o hábito de ouvir rádio acontecia de forma coletiva, em locais como armazéns, barbearias, clubes ou nas casas de vizinhos que possuíam o aparelho. Nesse contexto surgiu a “Rádio Propaganda de Atibaia”, um serviço de alto falante instalado na Praça Claudino Alves por iniciativa do senhor Sebastião Bueno.
A Rádio Propaganda de Atibaia ressurgiu em 1946 nas páginas do jornal O Atibaiense com o nome de SAFA – Serviço de Alto-Falante de Atibaia, agora de propriedade do jovem Cesar Mêmolo Junior, o Cesinha. O serviço de alto-falanteera um sistema de comunicação que funcionava como uma espécie de “rádio local comunitário”. Ele consistia na instalação de caixas de som (alto-falantes) em postes ou telhados de estabelecimentos, geralmente em praças centrais, mercados, clubes ou sedes de associações.
A programação era transmitida a partir de uma pequena central de áudio, normalmente instalada em uma sala simples equipada com toca-discos, microfone e amplificador e tinha múltiplas funções como divulgar as notícias locais, informar sobre os comunicados da prefeitura, veicular anúncio do comércio local e principalmente entreter. Com espírito empreendedor, Cesinha decidiu promover a SAFA de forma criativa e lançou o Primeiro Concurso do SAFA, convidando seu amigo João Batista Conti para colaborador na iniciativa. Usando o pseudônimo SDA, Conti elaborou cinco perguntas sobre a história de Atibaia.
Os interessados podiam participar preenchendo cupons publicados no jornal O Atibaiense ou retirando o questionário na Casa Rossomano. Bastava responder, entregar na sede do SAFA, na Praça Claudino Alves, e torcer pela seleção. Os participantes que acertassem todas as perguntas concorreriam a um sorteio de cinco livros de renomados autores internacionais, como Dostoiévski e Émile Zola — prêmios de grande prestígio cultural para a época.
A seleção final aconteceu num domingo de manhã, na própria sede do SAFA, diante de um grande número de participantes. Entre os finalistas, chamava atenção a forte presença da tradicional família Carneiro, com nomes como André, Dulce, Odila, Engrácia, Maria Francisca, Odete e Alfredo André Neto, entre outros. E você? Se o concurso fosse hoje, teria sido selecionado para o sorteio? As perguntas do concurso eram as seguintes: Qual o antigo nome da Rua José Lucas? Qual o antigo nome da Praça Claudino Alves? Qual o antigo nome da Praça Bento Paes? Qual o nome do segundo Barão de Campinas e onde ele nasceu? E finalmente: Qual a origem e o significado da palavra Atibaia? O concurso movimentou a cidade e transformou a SAFA não apenas em um veículo de comunicação, mas em um ponto de encontro da curiosidade, do conhecimento e da vida social de Atibaia. Mais do que transmitir anúncios ou músicas, a SAFA se tornouum importante instrumento cultural, ajudando a construir memórias e aproximar a comunidade, muito antes da popularização dos aparelhos radiofônicos na cidade.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.



