HISTÓRIAS DE ATIBAIA: o eterno desejo de conhecer a Pedra Grande

A partir de meados da década de 1940, o empresariado local passou a tratar o turismo com maior profissionalismo, incluindo com mais frequência os passeios à Pedra Grande entre os principais atrativos da cidade.

Márcio Zago

Atibaia está diretamente associada ao monumento natural que compõe uma das mais belas paisagens da região: o maciço da Pedra Grande. Subir até seu ponto mais alto sempre foi o desejo de moradores e visitantes, desde os tempos mais antigos.

 

Já no início do século XX, o jornal O Atibaiense registrava, em crônicas e relatos, os famosos passeios ao local — alguns deles eternizados pelas lentes dos fotógrafos Calixto Rinaldi e Alfredo André. A partir de meados da década de 1940, o empresariado local passou a tratar o turismo com maior profissionalismo, incluindo com mais frequência os passeios à Pedra Grande entre os principais atrativos da cidade. Em 1941, foi a vez dos redatores da revista Ferrovia visitarem o local. A publicação era um órgão dos funcionários da São Paulo Railway, companhia que mantinha a linha ferroviária que cortava Atibaia.
A excursão foi organizada no tradicional Rosário Hotel e contou com a presença de diretores, gerentes e funcionários da empresa, além de vários atibaianos ilustres, entre eles Oswaldo Barreto, Benedito Peçanha de Moraes, Vinício Chiochetti e Lamartine Fagundes, diretor do Atibaiense, possivelmente o autor da crônica que narrava as dificuldades da empreitada. A bordo de um caminhão V-8, dirigido pelo Sr. José Anselmo, a comitiva teve sua primeira parada forçada em uma das “subidas brabas” da estrada, retomando o trajeto algum tempo depois. Segundo o artigo: “Perto da capela de Santo Antônio, no âmago do Itapetinga, descem todos da condução. Ali, a comitiva é recebida pelo Sr. Benedito Pereira Bueno que, com a proverbial bondade do caboclo, se prontifica a auxiliar os excursionistas”.
A partir desse ponto, o percurso passou a ser feito a pé. A narrativa prossegue: “Enfim, a Pedra Grande. Invade-nos a alma aquela alegria íntima que todos sentimos ao vencer obstáculos. Em longos haustos absorvemos o oxigênio puro daquelas atitudes e os olhos, perdidos na amplidão, extasiam-se no esplendoroso espetáculo da natureza.” (…) “Os binóculos e as máquinas fotográficas entram em ação. Perspectivas magníficas, que impressionam vivamente a retina e se conservam para sempre na memória. Ali são avistadas Atibaia, seus subúrbios e bairros, cá embaixo; Nazaré e Campo Limpo, ao lado; Jundiaí e São Paulo mais além, assinalados pela fumaça de suas chaminés — assemelham-se a cidadezinhas de brinquedo, como bem escreveu o saudoso Amadeu Amaral: o vale encantado de nossa terra. Painel maravilhoso da criação, diante do qual o homem se sente pequeno e amesquinhado.”Outras excursões foram realizadas nos anos seguintes, muitas também registradas em fotografias e até filmes.
Infelizmente, quase nada desse material foi disponibilizado à comunidade. A esperança é de que ainda existam imagens preservadas em acervos particulares — e que, um dia, esses registros sejam encaminhados a espaços dedicados à preservação da memória coletiva de Atibaia, como é o caso do Museu Municipal João Batista Conti.

* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.