Frio escancara desafios com mais vulneráveis
Com a chegada do inverno mais rigoroso, os municípios enfrentam um desafio que vai muito além das quedas de temperatura: o impacto social e estrutural do frio intenso. Embora seja previsível, a forma como os municípios se preparam – ou falham em se preparar – revela fragilidades históricas na gestão pública e na proteção social.
A primeira face visível do problema é a população em situação de rua. Em noites geladas, abrigos municipais lotam rapidamente. A ausência de políticas permanentes e estruturadas transforma ações pontuais, como campanhas de doação, em paliativos que não dão conta da dimensão da emergência.
Mas os desafios não se restringem aos mais vulneráveis. Em bairros periféricos e áreas rurais, a precariedade das moradias também transforma o frio em risco de vida. Casas sem isolamento térmico, telhados improvisados e falta de acesso à energia agravam a situação de famílias inteiras.
Além disso, o impacto do frio sobre a saúde pública exige atenção. Aumento de doenças respiratórias, pressão sobre unidades de saúde e falta de medicamentos são agravantes previsíveis, mas nem sempre enfrentados com planejamento. Muitos municípios não contam com estoques adequados ou campanhas preventivas voltadas aos grupos mais vulneráveis, como idosos e crianças.
Em Atibaia, a atual gestão está buscando, desde janeiro, desenvolver um trabalho intensificado de reintegração de pessoas em situação de rua e de ampliação das ações de proteção social no município. Os profissionais, incluindo abordadores sociais, têm atuado no levantamento de dados sociais, buscando compreender melhor o perfil das pessoas em situação de vulnerabilidade, além de participar de discussões com equipes do Governo Estadual voltadas à construção de políticas públicas para essa população.
Com a chegada do frio, uma nova etapa desse trabalho foi iniciada recentemente, com a Operação Baixas Temperaturas. O objetivo é fortalecer a rede de proteção social e mitigar os impactos do clima frio sobre a população em situação de rua. Para aqueles que, por decisão própria, recusam o acolhimento institucional, a equipe realiza ações de redução de danos, com a distribuição de sacos de dormir, uma iniciativa viabilizada em parceria com o Fundo Social de Solidariedade de Atibaia. Também houve o aumento de vagas emergenciais para pernoite, com vagas adicionais.
Os desafios são reais, mas não insuperáveis. É preciso que o poder público trate o frio intenso como uma questão de gestão, e não apenas de solidariedade. Políticas de moradia digna, ampliação da rede de acolhimento, estruturação da saúde preventiva e integração com organizações da sociedade civil são caminhos possíveis para uma resposta mais eficaz.



