Atibaia não tem muito o que comemorar no Dia Mundial da Água
Monitoramento mensal do projeto “Observando os Rios”, da SOS Mata Atlântica,comprova qualidade ruim da água do Córrego do Onofre.
Neste 22 de março, Dia Mundial da Água, Atibaia apresenta um triste cenário no que se refere à vida de seus corpos d’água, em geral poluídos ou invisibilizados por canalizações. O Córrego do Onofre, que abastece mais de um quarto da população da cidade, é um exemplo de como um rio praticamente se transformou num corredor de esgoto. O córregovem sendo monitorado há quase dois anos por meio do projeto “Observando os Rios”, da SOS Mata Atlântica, e apresentou umÍndice de Qualidade da Água (IQA) ruim para a qualidade de sua água em dez do doze meses do ano de 2024.
O monitoramento analisa 14 parâmetros físico-químicos e biológicos da água. Entre eles, estãooxigênio dissolvido, nitrato, fosfato, PH, coliformes, odor, turbideze presença de larvas e peixes. A coleta da água é feita no final de cada mês, próximo à foz do Onofre, na altura da ponte próxima ao Espaço Atibaia. Atualmente, três voluntárias participam. Todo o material de análise, como reagentes, é fornecido pela SOS Mata Atlântica, que disponibiliza ainda um site e aplicativo para a inserção dos dados. Outros 112 cursos de água são monitorados pelo projetoem 14 Estados e 67 municípios brasileiros que possuem Mata Atlântica.
Dentre os parâmetros observados, o Córrego do Onofre apresenta, na maioria das vezes, odor fétido, alto índice de coliformes fecais, fosfato e nitrato. Esses parâmetros apontam, sobretudo, para a presença de esgotos no rio. “A qualidade da água do Onofre piorou muito no último ano em relação ao ano anterior e isso pode ser constatado por meio de um trabalho contínuo de monitoramento, utilizando uma metodologia simples e confiável”, afirma Marli Romanini, uma das voluntárias. Em relação aos demais rios brasileiros acompanhados pelo projeto, o Onofre apresentou um resultado abaixo da média, que é de IQA regular.
A bióloga Bruna Locardi, que também é voluntária da SOS Mata Atlântica e integra a equipe do Coletivo Socioambiental de Atibaia, explica que os bairros próximos ao corpo d’água despejam esgotos sem tratamento no Onofre. “Além disso, houve uma seca extrema ano passado e o rio não conseguiu se recuperar totalmente”, diz ela.
Para a voluntária e participante da Expedição pelas Margens do Córrego do Onofre, Edineia Prado da Costa, não houve até o momento um projeto sequer, por parte do poder público,visando arecuperar os rios da cidade. “Há mais de dois anos, estamos propondo a recuperação das margens dos rios da cidade e a implantação de parques lineares, bem como o tratamento de esgoto nos bairros periféricos para evitar o despejo in natura nos rios”, diz. Além disso, Edneia observa que o projeto de canalização do Onofre e dos rios Figueira, Ana Pires e Folha Larga iniciado pela gestão municipal anterior não será capaz de prevenir enchentes, como alegado pela administração municipal, e tampouco é solução para o enfrentamento a emergências climáticas.
Ciência cidadã
O objetivo do “Observando os Rios” é coletar dados sistematizados para atuação na gestão participativa da água no município. Por meio das análises, é possível diagnosticar a saúde do meio ambiente no entorno dos rios, identificar os principais problemas e buscar soluções integradas que possibilitem a sua recuperação. Umas das demandas, por exemplo, é a necessidade de tratamento de esgoto e restauração ecológica das áreas de preservação permanente em suas margens.
Gustavo Veronesi, que é geógrafo e coordenador do “Observando os Rios”na SOS, alerta para a importância do projeto: “Voluntários de todo o país colhem dados e fazem análises contínuas, com ponderação de parâmetros, num importante trabalho de ciência cidadã”, afirma. Segundo ele, esse processo pode facilitar a tomada de decisão por parte dos responsáveis sobre como manter ou melhorar a qualidade da água, podendo assim produzir água limpa, um artigo que vem-se tornando cada vez mais escasso e ameaçado.
Por Marli Romanini