Espetáculo Corpos Dissidentes leva mais de 350 pessoas ao Cine Itá Cultural

A apresentação trouxe para a cena quase 30 artistas, tendo como protagonistas corpos negros, idosos, gordos, LGBTQIAPN+, PCD e neurodivergentes.

Foto: @roke.audiovisual-311

O Projeto Corpos Dissidentes realizou no Cine Itá, uma apresentação de dança gratuita para a população. O espetáculo teve como objetivo oferecer protagonismo a pessoas que, de alguma forma, têm os corpos subjugados e marginalizados por não corresponderem ao padrão estabelecido como o corpo ideal pela nossa sociedade. A proposta, contemplada pela Lei Emergencial Paulo Gustavo (Lei Federal n°195/2022 e suas alterações), foi realizada pela produtora cultural RékaDartte em parceria com a Associação Cultural Negra Visão.
As ações se iniciaram em julho com a primeira oficina de danças afro-brasileiras, aberta a todos os tipos de corpos, no Centro Comunitário do Jardim Imperial. Em agosto, foi realizada a segunda oficina e em setembro uma roda de conversa reuniu participantes e interessados em seguir para a segunda fase, destinada exclusivamente a corpos dissidentes. A primeira fase do projeto atendeu diretamente cerca de 120 pessoas.
A partir de setembro, o projeto iniciou a segunda fase, onde aconteceram aulas semanais, no Quilombo Urbano Negra Visão. Ao todo 20 pessoas inscreveram-se para o processo que culminou no espetáculo de dança: “a princípio o projeto foi pensado para receber 10 pessoas na segunda fase, mas, diante da intensa procura resolvemos ampliar e acolher todos que quiseram participar. Foi uma grande satisfação oferecer um espetáculo de alto nível e ver esses corpos sendo aplaudidos e ovacionados. Este foi mais um dos objetivos atingidos”, declara a produtora cultural e idealizadora do projeto RékaDartte.

 

 

 

O espetáculo foi aberto com a apresentação dos trabalhos artísticos de Pepi GM. O artista é PcD e teve suas obras expostas nos telões do cineteatro.
Todo o figurino foi pensado e feito pelos artistas integrantes do elenco, com a coordenação de Patricia Herrerias. O destaque cenográfico também contou com a iluminação de Eduardo Salino, que esteve pessoalmente executando um projeto de luz desenvolvido especialmente para o Corpos Dissidentes. Salino já trabalhou com importantes artistas como Ed Motta, Jorge Vercillo, Guilherme Arantes, Joanna, Erasmo Carlos, Grupo Raça e Luiza Possi.
Para Silvana Cotrim, presidente da Associação Cultural Negra Visão, este é um momento muito importante para a história cultural do município por contemplar diferentes corpos numa festa de ritmos, danças e cores: “estamos felizes também em poder proporcionar às pessoas que não se sentiam possíveis e aceitas, a condição necessária para dançar e estar em evidência, num ambiente de amor e incentivo”, declara.
Segundo a produtora cultural RékaDartte, ‘ desde o momento da concepção do projeto, o espetáculo foi pensado para acontecer em novembro, Mês da Consciência Negra: “um dos destaque do espetáculo, foi uma apresentação solo de Marlene Leite. Nossa dançarina é uma mulher negra, 60+ e é uma pessoa com deficiência visual. Garantir este espaço de protagonismo é também garantir o espaço de ser vista, reconhecida e ser valorizada dentro da nossa sociedade”, apontou Réka.
A apresentação contou também com o dançarino Alpheu Neto, um dançarino neurodivergente com autismo nível 2 que participou de todo o projeto, desde as oficinas e dançou o espetáculo todo.
Todo o trabalho de dança contou com a condução do professor e dançarino Mestre Enoque Santos, que assina a direção artística do projeto e do espetáculo. Formado pela Universidade da Bahia (UFBA) e responsável por diversos projetos junto ao Sesc-SP e de outros estados. Além disso, participou da Bienal Internacional Sesc de Dança e é curador da São Paulo Escola de Dança. Após a apresentação, Mestre Enoque compartilhou de maneira emocionada a repercussão que o espetáculo causou: “ao fim da apresentação pessoas da plateia subiram ao palco e me disseram que nós mudamos o pensamento delas sobre o modo de ver essas pessoas. Teve uma mocinha que me falou que agora ela se identificava como uma pessoa negra. Isso não tem preço”, observou Enoque.
A apresentação trouxe diversas linguagens da dança passando pela cultura dos povos originários, cultura popular brasileira, dança contemporânea, hip hop, dança egípcia e dança afro-religiosa. E contou também com a participação especial dos artistas Claudia Parolim, Grupo Curiá, Juh Manah, Mestre Enoque, Mestre Junior, Silas Natanael e Poeta Nikito, que cantou uma música escrita por ele especialmente para o projeto: “fiz questão de usar este espaço para convidar artistas de nossa cidade que admiro. É importante fomentar e valorizar a cultura local”, declara RékaDartte, que também assina a direção geral do espetáculo.
RékaDartte também subiu ao palco, dançou e tocou tambor nas duas últimas músicas da apresentação. O espetáculo foi aplaudido de pé e no discurso final, Réka agradeceu e citou o nome de cada pessoa que somou forças ao longo dos 5 meses do projeto e ressaltou a importância desse trabalho para nossa cidade, onde ainda há uma cultura racista, elitista e capacitista: “Pretendemos levar esse espetáculo para outros lugares. Quero também continuar escrevendo projetos e captando recursos para poder desenvolver novas ações. As pessoas se emocionaram e se identificaram muito com a proposta. Várias me abordaram após o espetáculo, querendo fazer parte. Se você também quiser, escreva para 11 91898-2181 ou acesse o link na Bio do @projetocorposdissidentes no Instagram e entre para o grupo de INFORMES. Lá avisarei as novas ações”, concluiu.