Agravamento de seca compromete ainda mais abastecimento de água em Atibaia
Devido à contínua redução da vazão do córrego do Onofre (foto), a Operação Estiagem foi ampliada para toda a cidade.
O Atibaiense – Da redação
A Operação Estiagem da SAAE Atibaia foi ampliada nesta quarta-feira, dia 2, devido ao agravamento da crise hídrica no município, causada pela redução do córrego do Onofre, que chegou a nível crítico essa semana. Somada ao alto consumo decorrente do calor excessivo, foi necessário aumentar a graduação (redução de pressão) de todo o sistema, o que poderá ocasionar falta d’água ou baixa pressão pontuais em mais áreas do município.
As equipes da SAAE estão monitorando em tempo integral o comportamento do sistema e a situação dos mananciais e as ações tomadas visam sempre causar o menor impacto à população.
Em 11 de setembro foi decretado estado de emergência em Atibaia (Decreto nº 11.059) e iniciou-se a Operação Estiagem, com redução de pressão da rede, alternada por grupo de bairros (setores), sem o fechamento total.
Desde então, como houve alto consumo, em alguns locais foi registrada falta de água e não apenas a baixa pressão. No dia 26 de setembro, foi preciso ampliar a operação, motivada pela drástica redução da vazão do córrego do Onofre, somada ao alto consumo decorrente do aumento das temperaturas.
Além dos bairros que já estavam listados nos setores anteriormente, outros foram incluídos e tiveram interrupções a partir das 9h do dia 26, com normalização gradativa na manhã do dia 27. Já no dia 27, como as ações anteriores não foram suficientes para a recuperação dos reservatórios, a ampliação da Operação Estiagem teve continuidade, com interrupção a partir das 17.
O sistema foi liberado completamente na manhã do último sábado, dia 28, mas devido ao alto consumo decorrente da demanda reprimida, alguns locais tiveram uma demora maior no processo de normalização. Na segunda-feira (30) foi decidida a necessidade de ampliação da operação, o que aconteceu a partir desta terça, 1º de outubro.
O momento é crítico e vem sendo agravado pelas constantes queimadas, que também colaboram com a alta do consumo da população. Atibaia enfrentou essa semana novos focos de incêndio de grandes proporções em diferentes bairros.
A situação tem se agravado ainda na região. O Sistema Cantareira está operando com metade de sua capacidade – estava em 50,1% na quinta-feira, dia 3. Outras cidades também já decretaram emergência e estão passando por dificuldades para manter o abastecimento.
Em Barretos, onde não chove há 4 meses, já existe a possibilidade do sistema entrar em colapso. Vinhedo decretou crise hídrica em 20 de maio e utilizou o documento do Consórcio PCJ como base para ações de enfrentamento da estiagem. O governo de São Paulo decretou situação de emergência em Artur Nogueira e, 5 de agosto.
Na semana passada, o Consórcio PCJ, do qual Atibaia faz parte, realizou a 95ª Reunião Ordinária do seu Conselho de Associados com a presença do hidrólogo e professor da Universidade de Campinas (Unicamp), Antônio Carlos Zuffo. Em sua apresentação, Zuffo apresentou cenários e comportamentos hídricos no Estado de São Paulo e nas Bacias PCJ, no qual se constata a intercorrência de Crises Hídricas a cada 11 anos, portanto, segundo ele, a região estaria próxima de um novo evento hidrológico extremo, que deverá ocorrer entre 2025 e 2027.
Esse comportamento climático é chamado de Ciclo de Schwabe e prevê a ocorrência de crises entre oito e 13 anos, com média de 11. Segundo o professor da Unicamp, ocorreram crises hídricas no Estado de São Paulo em 1992, 2003, 2014/15, respeitando esse modelo de intervalo, o que leva a crer que ao final de 2025 exista grandes chances de termos um evento extremo como o verificado em 2014, quando o Sistema Cantareira quase secou, sendo necessário explorar as águas do volume morto, também chamado de volume estratégico.
Zuffo também alertou sobre a situação das vazões Q7, 10 nos rios da região, que é o valor anual da média de 7 vazões diárias consecutivas que pode se repetir, em média, uma só vez a cada dez anos, ou seja, período de retorno de 10 anos. Essa vazão está ficando menor a cada ano devido ao comportamento climático chamado Efeito José. Esse efeito ocasiona longos ciclos de período úmido e seco, em intervalos de 30 a 50 anos entre eles. Para explicar esse comportamento, o professor da Unicamp usou como exemplo a vazão Q7, 10 na Bacia do Rio Camanducaia, durante o período úmido anterior ao que estamos vivendo, que estava em 8,03 m³/s, mas no período seco atual está em 2,78 m³/s devido à fase de estresse hídrico, que ainda deve durar por mais 30 anos. Esse mesmo comportamento tem sido identificado
Para ampliar a segurança hídrica frente a uma possível nova crise, Zuffo destacou duas medidas que precisam ser adotadas pelos gestores: as variações climatológicas extremas, como os do ciclo José, têm de ser consideradas nos Planos de Longo Prazo para Abastecimento, Energia, Irrigação e para a Indústria. A construção de reservatórios de regularização é necessária para a segurança hídrica. E quanto aos possíveis impactos da nova crise, estão a redução da geração de hidroeletricidade, por causa da redução das vazões dos rios, e a queda da produtividade agrícola pela diminuição das chuvas.
A SAAE Atibaia alerta que neste momento crítico, a participação da população com a prática do consumo consciente é fundamental “para transpormos este período difícil que, infelizmente, não é exclusividade de Atibaia”. Com a crise, é necessário que a população economize água para que não haja o agravamento do abastecimento.