Circo Shumann esteve em Atibaia em 1936

A chegada do circo quebrava a rotina local e oferecia aos moradores a oportunidade de vivenciar um mundo de fantasia, diversão e ludicidade.

Márcio Zago

Em 1936, o jornal O Atibaiense anunciou a chegada de mais um circo à cidade: o Circo Shumann, que se instalou no Largo do Santo Cruzeiro, atual Praça Miguel Vairo. Segundo o periódico, “o conjunto artístico é dos melhores que temos assistido. Os irmãos Shumann assombraram os espectadores com seus arriscadíssimos trabalhos de acrobacia, ginástica e contorcionismo. As gentis bailarinas Conchita, Ema e Julinha, com seus graciosos e modernos bailados, bem mereceram os calorosos aplausos da assistência. O clown Mauricio e o excêntrico Periquito, com suas chistosas piadas, completam o excelente elenco do Circo Shumann. ”Naquela época, o circo exercia um grande fascínio sobre a população, e sua presença em cidades pequenas era um acontecimento cultural de enorme relevância, especialmente em um período em que o acesso ao entretenimento e às manifestações artísticas era bastante limitado. A chegada do circo quebrava a rotina local e oferecia aos moradores a oportunidade de vivenciar um mundo de fantasia, diversão e ludicidade.
Além disso, era um momento de encontro e sociabilidade, fortalecendo os laços comunitários e criando memórias compartilhadas, muitas das quais se tornavam parte da história pessoal dos habitantes. Um exemplo é a história narrada em um blog da Estância de Cambuquira, intitulada “Uma História de Amor”. A matéria relata o romance entre Julinha, a contorcionista do Circo Shumann, e Fred Moller, um morador de Cambuquira, pequeno município de Minas Gerais. Com a chegada do circo à cidade, a vida de Fred mudou para sempre. Sentado na primeira fila, o jovem se encantou com a bela contorcionista Julinha, filha do proprietário do circo, o alemão Mauricio Shumann.
Um encontro casual foi suficiente para selar seus destinos. Fred abandonou a padaria de seus pais e seguiu o circo, casando-se com Julinha tempos depois e integrando-se à trupe. Juntos, tiveram sete filhos, alguns dos quais seguiram a carreira artística. Histórias como essa se repetem em várias partes do mundo e em diferentes épocas, sendo típicas das narrativas circenses, marcadas pela relação familiar, pela transmissão de talentos de geração em geração e pelos casos amorosos entre artistas de circo e seus espectadores. Não é difícil entender o motivo. O circo, com sua atmosfera mágica, desperta admiração, encantamento e o sonho da liberdade. Os artistas, com sua habilidade técnica, coragem e destreza, próprio da profissão, são vistos como figuras misteriosas e cativantes, cujas vidas itinerantes e experiências incomuns contrastam com a rotina do público,gerando uma espécie de fascínio e atração, alimentando o imaginário romântico.

* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.