Atibaia enfrenta emergência hídrica devido à severa estiagem

Situação do município é parecida com outras cidades da região. Vinhedo, por exemplo, decretou emergência em maio.

O Atibaiense – Da redação

No último dia 10, a Prefeitura de Atibaia decretou estado de emergência hídrica, motivado pela falta de água para abastecimento em níveis de normalidade para as necessidades da população. O principal problema na cidade é a vazão do Córrego do Onofre, que abastece cerca de 25% da população.
O Decreto Municipal nº 11.059, publicado na Imprensa Oficial do município em 11 de setembro, pretende mitigar os efeitos das secas de forma a manter o sistema de abastecimento de água com o menor prejuízo possível à população.
Uma das ações previstas, e já iniciada no dia 11, foi a Operação Estiagem, que dividiu a cidade em 3 setores. Os bairros desses setores terão a pressão da água reduzida, com duração de 24h na redução em cada setor. Por ser redução de pressão, a operação não afetará a totalidade dos bairros, mas sim parcialmente. Essa medida é uma alternativa que impacta menos o abastecimento e que os bairros mencionados por setor podem não ser afetados na totalidade, depende do consumo.
A SAAE Atibaia esclarece que a Operação Estiagem é uma medida de enfrentamento ao cenário de seca que o país sofre. Consiste na redução de pressão da rede que, em função do consumo, poderá ocasionar baixas pressões em alguns locais, prejudicando o abastecimento. Esta ação foi necessária para a transposição deste período escasso de chuvas, e para manter o abastecimento de água com o menor impacto possível à população. As manobras de rede ocorrem durante a manhã e a normalização gradativa é prevista para a manhã do dia seguinte.
O Setor 1 é composto pela área Central e Bairro do Tanque, abrangendo Centro, Vila Maria, Vila Salles, Parque dos Coqueiros, Parque das Nações, Jardim Roseli, Vila Carvalho, CTB, Jardim Brasil, Recreio Estoril, Bairro da Ponte, Vila Mira, Mato Dentro, Parque das Águas (Alameda Lucas N. Garcês), Vila Thaís, Zona Baixa – Vila Gardênia, Jardim Floresta, Estância Lynce, Jardim Nova Aclimação, Atibaia Jardim (Baixa), Alvinópolis (zona baixa até a Rua Clóvis Soares), Vila Rica, Jardim Terceiro Centenário, Residencial Santa Mônica, Vila dos Netos, Jardim Tapajós, Jardim Samambaia, Ressaca, Loanda, Jardim Morumbi, Jardim Ipê, Jardim dos Pinheiros (zona baixa), Jardim Kanimar, Guaxinduva, Jardim Elisa, Condomínio Porto Atibaia, Residencial Quadra dos Príncipes (zona baixa), Jardim Brogotá, Mato Dentro, Parque das Garças I II III, Colinas Verde, Estância Parque, Belvedere, Serras de Atibaia I II, Tanque, Jardim Paraíso, Jardim Santa Helena, Jardim Planalto do Paraíso.

 

 

O Setor 2 é composto por Alvinópolis e Zona Baixa Colonial: Atibaia Jardim, Jardim Alvinópolis (zona baixa), Jardim Planalto, Alvinópolis (zona alta), Jardim do Lago, Jardim Paulista (zona baixa), Jardim Santa Helena, Jardim das Flores, Vila Giglio, Jardim Maristela I (zona baixa), Jardim Maristela II, Recreio Maristela (zona baixa), Dona Carmela, Vila Espéria, Jardim Santa bárbara (zona baixa), Residencial Granville (Avenida Santana), Jardim Arco Íris (zona baixa), Jardim Flamboyant (zona baixa), Refúgio, Retiro das Fontes, Residencial Pedra Grande (Avenida Santana), Residencial Água Verde (zona baixa), Recreio Estoril II, Chácaras Maringá, Jardim Sueli, Taba Camping, Jardim São Felipe, Campos Atibaia, Jardim Santo Antônio, Jardim Cilar, Jardim Colonial.
E o Setor 3 abrange Cerejeiras e Imperial: Jardim Cerejeiras (zona baixa), Casas Populares, CDHU, Jardim das Palmeiras, Jardim Alvinópolis II, Vila Santa Clara, Vila São José I II III, Reciclagem, Parque São Pedro (zona baixa), Jardim Imperial (zona baixa), Fepasa.
O córrego do Onofre está com níveis inferiores aos limites prudenciais e necessários, por isso foi necessária a medida de emergência. A restrição atual é a menos severa ante a escassez dos recursos hídricos. O Decreto tem validade por 90 dias, podendo ser revogado por igual período e prevê medidas mais drásticas em caso de necessidade, como o racionamento.
Com a situação crítica de seca, altas temperaturas e falta de chuvas, a população também deve colaborar, denunciando à SAAE situações de desperdício. Atibaia tem a Lei Municipal nº 4.340/2015, que proíbe o uso de água tratada com mangueira para irrigação de jardins e para lavagem de calçadas e de veículos em Atibaia, com previsão de multa em casos de reincidência. Quem presenciar estas práticas, que prejudicam o coletivo, podem denunciar anonimamente para a Central de Atendimento da autarquia, pelo número 08000 112 190.

 

 

PREVISÃO DE SECA SEVERA
Segundo o Consórcio PCJ, especialistas em meteorologia vem atentando desde o início de 2024 sobre a possibilidade de ocorrência no segundo semestre do fenômeno climático La Niña, evento que arrefece as águas do Oceano Pacífico. No entanto, a queda de temperatura também está sendo verificada nas águas do Oceano Atlântico e podem tornar os impactos ao clima global ainda mais intensos. Nas Bacias PCJ, da qual Atibaia faz parte, a expectativa é que as chuvas demorarão mais tempo para voltar no volume das médias históricas.
O especialista em hidrologia e recursos hídricos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Antônio Carlos Zuffo, atenta que caso se confirme a ocorrência de La Niña duplo, as chuvas na região centro-sul do Brasil, incluindo as Bacias PCJ, podem demorar ainda mais para voltar a acontecer dentro da média histórica. “Em geral, quando o La Niña ocorre no Pacífico, a tendência é de seca no centro-sul e chuva no norte e nordeste. Se o Atlântico esfriar também, essas duas configurações podem agravar ainda mais a situação ou amenizar. Estamos entrando na primavera e o La Niña atrasa o início das chuvas, que devem começar a cair ao final de novembro e início de dezembro”, alerta.
Zuffo também atenta que as vazões dos rios das Bacias PCJ devem seguir em queda. “A precipitação de chuvas devem ficar abaixo da média histórica e as vazões dos rios vão continuar diminuindo até dezembro”, atenta ele. Segundo o professor da Unicamp, as cidades que não possuem reservatórios municipais ou não são abastecidas com mananciais regulados pelas vazões do Sistema Cantareira vão sofrer mais com a estiagem prolongada nesse ano.
Segundo o mais recente Boletim Hidrológico do Consórcio PCJ, as vazões dos rios da região estão muito abaixo da média histórica, com queda de 42%, além de temperaturas médias altas, o que pressiona o consumo de água. O Consórcio tem orientado municípios e empresas a criarem Grupos de Gestão de Estiagem, que se guiem pelas orientações da Operação Estiagem, procedimentos divididos em três graus de criticidade da disponibilidade hídrica: baixa dificuldade no atendimento de água ou fase verde, média dificuldade ou fase amarela, e alta dificuldade ou fase vermelha
De acordo com Zuffo, a estiagem em 2025 será ainda mais intensa, já que os reservatórios entraram com menos água reservada. “Pode ser que começaremos o próximo outono [em 2025] com os reservatórios bem mais baixos para passar todo o período seco e provavelmente teremos problema de água, já que o Cantareira deve baixar mais 20 ou 30% até o final de 2024, entrando no ano que vem com menos água reservada”, alerta.
Zuffo defende que desde 2014 entramos numa fase que deve apresentar chuvas mais escassas e que essa fase pode durar de 30 a 50 anos, ou seja, ainda teremos mais anos com precipitações abaixo das médias históricas.
Para se ter uma ideia, o Sistema Cantareira opera em queda constante. Nesta quinta-feira, dia 12, estava com 55% do seu reservatório. Na mesma data em 2023, operava com 71,1%.
Além de Atibaia, outros municípios da região já estão em emergência hídrica. Vinhedo decretou crise hídrica em 20 de maio e utilizou o documento do Consórcio PCJ como base para ações de enfrentamento da estiagem. O governo de São Paulo decretou situação de emergência em Artur Nogueira e, 5 de agosto.
O Brasil enfrenta a pior seca enfrentada pelo país nos últimos 44 anos, aponta o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais – Cemaden. São cerca de 20% dos municípios brasileiros em situação de seca severa ou extrema, especialmente nos Sudeste, Norte e Centro-Oeste. Em agosto deste ano, São Paulo se destacou com o número de municípios que se encontram em situação de seca extrema (82), seguido por Minas Gerais (52) e Mato Grosso (24).