A bondade pode ser o superpoder do ser humano?
A descrença do leitor deve afastá-lo desta coluna, por uma questão simples: ser pessimista é “ser inteligente”. Será mesmo? Os otimistas são tratados, normalmente, como seres ingênuos, de escassa sabedoria, desconectados da realidade, fantasistas e outras monstruosidades.
Quer saber minha verdade? Sou otimista com a humanidade, por mais que as notícias, as conversas, muitas das atitudes que vemos em família e na sociedade, alimentem a tendência ao contrário.
Ao ler um boletim do “Fronteiras do Pensamento”, deparei-me com um texto sobre o historiador holandês Rutger Bregman, autor do livro “Humanidade: uma história otimista do homem”. Segundo ele, o que alavancou o desenvolvimento e a evolução da nossa espécie é o fato de sermos seres ultrassociais, ao contrário de outros primatas que nos antecederam. Nosso nível de aprendizado social é esmagadoramente superior ao dos chimpanzés e orangotangos, por exemplo. Esse seria o nosso “superpoder”.
Ainda não li o livro, mas fiquei muito estimulado ao saber que Bregman reúne dados e relatos históricos para embasar sua tese de que esse caráter ultrassocial é um indicativo de que temos propensão à bondade. Apesar de poucas pessoas discordarem dessa característica humana, tentar conectá-la a uma “tendência à bondade” pode parecer uma visão “rósea”, especialmente quando observamos evidências do oposto diariamente.
Bregman mostra que não se abala com isso. Defende que o cinismo em relação a essa questão é enviesado e pouco embasado. Por isso, quer provar o contrário: que o humano está voltado para a cooperação em vez da competição. “Se nós acreditarmos que a maioria das pessoas não é confiável, será assim que trataremos uns aos outros, para prejuízo de todos. […] Se quisermos enfrentar os maiores desafios atuais […] precisaremos começar pela visão que temos da natureza humana”.
Caro leitor, tudo o que foi dito aqui é balela? Você continuará defendendo a crença que une a esquerda e a direita, psicólogos e filósofos, pensadores antigos e modernos: a suposição de que os seres humanos são maus – e ponto final? Fico com a pergunta.