Festas do Padroeiro e do Divino

Em 1928, as festividades de São João Batista e do Divino contaram também com a participação de um recém-criado agrupamento social.

Márcio Zago

No passado, as celebrações da religiosidade católica exerceram forte influência nas atividades culturais do município. Exemplos disso são as festas dedicadas a São João Batista e a Festa do Divino, que ocorriam nos dias 24 e 25 de junho. Esses eventos eram momentos de celebração, demonstração de fé e convívio social, contando com a participação das bandas musicais e corais da cidade. A comunidade se envolvia de diversas formas, especialmente na organização das festividades.
Os chamados festeiros, em conjunto com as autoridades eclesiásticas, eram responsáveis pela organização das festas, cuidando da infraestrutura, do levantamento de recursos e das contratações necessárias. Eles eram escolhidos no final de cada festividade para preparar o evento do ano seguinte. A Festa de São João Batista, padroeiro de Atibaia, tinha como peculiaridade a ausência dessa comissão nas primeiras décadas do século XX, devido à constante colaboração da Senhora Auta de Toledo Cunha, uma festeira permanente.
Essa obrigação voluntária derivava de uma promessa em que ela se comprometia a organizar a festa enquanto estivesse viva. Em 1928, as festividades de São João Batista e do Divino contaram também com a participação de um recém-criado agrupamento social: o Tiro de Guerra de Atibaia. Segundo a Wikipédia, os “Tiros de Guerra (STG ou TG) são órgãos do serviço militar brasileiro responsável pela formação de reservistas de segunda categoria, denominados atiradores. A organização de um TG ocorre em acordo firmado com os municípios e o Comando da Região Militar.
O Exército fornece os instrutores (normalmente sargentos ou subtenentes), fardamento e equipamentos, enquanto a administração municipal disponibiliza as instalações. Por isso, geralmente, o prefeito se torna o diretor do tiro de guerra”. Em Atibaia, a formação do Tiro de Guerra 446 contou com forte apoio da oficialidade local. O número 446 referia-se à quantidade desses órgãos já instalados no país, e sua dinâmica obedecia a todos os regramentos que ainda hoje permanecem no setor militar, como disciplina rígida, treinamento físico intenso e um forte apelo nacionalista.
O Tiro de Guerra 446 teve grande aceitação social e sua participação nas procissões das festas de São João Batista e da Festa do Divino foi destacado pelo jornal O Atibaiense. Nessas festas, era grande o fluxo de pessoas que vinham de diferentes bairros e até de cidades vizinhas, atraindo fotógrafos ambulantes, músicos, artesãos, circos e demais artistas que viam ali a oportunidade de comercializar sua arte. Na própria celebração religiosa, havia a oportunidade dos músicos locais colocarem em prática os longos períodos de ensaio.
Durante o trajeto das procissões, um coro formado basicamente por jovens do Coral São João entoavam cânticos sagrados em vernáculo e em latim todas as vezes que a banda musical cessava de tocar. Na missa da matriz, o coral, dirigido por Dorotéia Ferraz e regido por Anna Urioste Caparica, a Dona Nhanhã, ganhava o acompanhamento da orquestra instrumental comandada pelo maestro Juvêncio da Fonseca, o mestre Fonseca, como era chamado. Esses dois músicos, Anna Urioste Caparica e Juvêncio da Fonseca, foram fundamentais na formação de inúmeros cantores e instrumentistas em Atibaia nas primeiras décadas do século XX, e estão intrinsecamente ligados às ações da igreja católica.

* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.