O desconhecido Cine Atibaiense
O Teatrinho do Mercado, um modesto espaço cênico que outrora servia a essa função, fora desativado em 1915 para acomodar a expansão do Mercado Municipal.
Márcio Zago
Em 1925, o jornal “O Atibaiense” informava: “Graças à iniciativa do Major Juvenal Alvim, que tem sido incansável colaborador do progresso local, a nossa cidade, brevemente, terá um teatro à altura do seu desenvolvimento, ficando assim satisfeita a antiga e justa aspiração do povo”. De fato, o teatro era uma velha aspiração da elite econômica de Atibaia.
O Teatrinho do Mercado, um modesto espaço cênico que outrora servia a essa função, fora desativado em 1915 para acomodar a expansão do Mercado Municipal. A partir daí, os dois cinemas existentes na época, o Pavilhão Recreio Cinema e o Palace Theatre, além da função original de exibir filmes, passaram a promover atrações cênicas, somando também uma atribuição como teatro. Mas não era a mesma coisa. Os atibaienses queriam um teatro com exclusividade, como já teve Bragança Paulista com o Teatro Carlos Gomes, ou mesmo Piracaia, com o Teatro Santa Aurea. A notícia foi muito bem-vinda. Tratava da compra do Cinema Central (que naquele momento pertencia aos irmãos Tittarelli) pelo Major Juvenal Alvim para transformá-lo no Teatro República.
O Cinema Central fora outrora o Pavilhão Recreio Cinema, o primeiro cinema existente em Atibaia, construído pelo empresário Deoclides Freire. A promessa era de que a reforma iria transformar o velho Cinema Central em algo inusitado em termos técnicos e estéticos para a cidade. Mas enquanto a reforma era feita, surgiu um novo cinema: O Cinema Atibaiense. O improvisado e provisório espaço teve sua estreia no dia 17 de setembro de 1925, com Tom Mix no filme “Para a Terra do Ouro”. O novo cinema ficava anexo à máquina de beneficiar café dos senhores Juvenal Alvim & Cia. Segundo informações, esse espaço era próximo à atual rodoviária.
O novo cinema, que logo passou a ser chamado Cine Atibaiense, durou pouco. Em janeiro de 1926, foi anunciada a inauguração do Teatro República e a partir dessa data, o Cine Atibaiense deixou de existir. Nos quatro meses em que atuou, além dos filmes, duas atrações cênicas chamaram a atenção. A primeira contou com a presença do humorista Napoleão Aguiar, um consagrado artista da época que percorria os palcos da região. A segunda do músico sertanejo Plinio Rosa de Brito, que apresentou composições próprias intercaladas com os clássicos do gênero.
O artista utilizava o codinome de “campeão brasileiro em canções sertanejas” e fez grande sucesso em Atibaia. O destaque na divulgação desta apresentação foi o fato do músico não ter as duas pernas, perdidas em razão da picada de uma cobra urutu. Na época, havia um ditado que dizia: “a urutu quando não mata, aleija”, em referência aos acidentes, que eram comuns na região. O Cine Atibaiense abria nos finais de semana e mantinha duas sessões aos domingos, com uma programação bastante atualizada para a época. Exibiu, entre outros, filmes com Tom Mix, o primeiro personagem cowboy da cena muda, e também as disputadas fitas com Clara Bow, a principal sex symbol de sua época.