Todo artista deve ir onde o povo está
Márcio Zago
A frase acima, da música “Nos Bailes da Vida”, de Milton Nascimento, destaca de maneira significativa a razão pela qual Atibaia atraiu várias companhias circenses no início do século XX. Companhias notáveis, agora parte integrante da história circense, deixaram sua marca na cidade. Exemplos incluem o Circo Guarany, liderado pelo icônico João Alves, o Circo Nerino, de NerinoAvanzi, e a presença de Benjamin de Oliveira, o mais importante artista da primeira geração circense, que passou por Atibaia em 1919.
Mas companhias de pequenos portes, as chamadas companhias mambembes também trouxeram alegria aos antepassados locais… E a razão era uma só: Chegar aos lugares onde havia público pagante.Vale ressaltar que a locomoção entre cidades era desafiadora e dispendiosanaquela época. Nesse contexto, os circos, incluindo companhias teatrais e, por um tempo, o cinema, deslocavam-se até o público. Atibaia apresentava uma vantagem crucial para essas companhias: a presença de uma via férrea que facilitava sua chegada, embora muitos deles utilizassem somente o transportecom tração animal.
Dessa forma, a cidade e toda a região desfrutaram amplamente das atrações circenses. Neste período os circos eram montados no pátio do Mercado, ou então na Praça Aprígio de Toledo, uma escolha estratégica devido à topografia plana, proximidade ao pequeno centro urbano e acesso abundante à água do chafariz, lembrando que o local já tinha tradição cultural em razão do Teatrinho do Mercado, que também ficava ali.
O jornal “O Atibaiense” relatou também a presença ocasional de circos na Praça do Santo Cruzeiro, hoje Praça Miguel Vairo, mas não era comum. Entre 1921 a 1922 a cidade recebeu diversas companhias.Em 1921 vieram para Atibaia os Circos Monte Azul, com a peça “Esposa Mártir”; o Circo Philadelphia; o Circo Luso-brasileiro, que anteriormente se chamava Circo Glória Brasil, fundado pelo comendador João Miguel de Farias em 1875; o Circo Pinheiro, de propriedade de Aristide Pinheiro e o Circo Chile.
Em 1922 o Grande Circo Araújo, de propriedade de Adelino Motta, que tinha como equilibrista e domador Joaquim Araújo, considerado na época o melhor equilibrista (seu número de equilíbrio consistia em colocar uma mesa posta completa sobre o arame e depois tirá-la); O Circo União Brasileira, com o artista Alpoim – o fakir; o Circo Serrano; o Circo Nerino, conhecido como o Circo mais querido do Brasil, que já tinha se apresentadoem Atibaia em 1919, além do Circo Jardim Zoológico e do Circo Cruzeiro do Sul, que trabalhavam com feras amestradas.
Como se nota o circo foi parte integrante da formação cultural da população atibaiense, e havia espetáculos para todos os gostos: Do circo touradaao circo teatro, passando pelos acrobáticos e mais tarde pelos circos que apresentavam animais domesticados como atração. As companhias que aqui chegavam quebravam a monotonia do lugar e enchiam de curiosidade e alegria a vida da população local, mesmo que somente por algumas horas.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.