A tempestade e o Circo Jahú
Márcio Zago
A tempestade que testemunhamos na semana passada, que destruiu telhados e derrubou árvores, não é um evento novo em Atibaia. Registros históricos mais antigos mencionam incidentes semelhantes em diferentes épocas. No mesmo mês de outubro de 1935, um desses indesejáveis fenômenos também atingiu o centro da cidade, causando consideráveis prejuízos materiais. Entre as vítimas estava o Circo Jahú, naquele momento armado na Praça Aprígio de Toledo.
A tempestade também derrubou árvores, postes da Empresa Elétrica e os muros da praça esportiva do São João Futebol Clube. Infelizmente, acidentes envolvendo circos devido a tempestades não eram incomuns. A história circense documenta vários incidentes semelhantes, por vezes com consequências trágicas, como o ocorrido em 1949, quando uma tromba d’água atingiu o Circo Teatro Universal, um circo de Piracicaba que estava armado em Americana, SP.
Foi o maior desastre natural daquela cidade até hoje, e apenas no circo, a tragédia deixou seis mortos, incluindo uma criança de dois anos. Em Atibaia, o violento temporal de 1935 chegou às 10 horas da manhã do dia 3 de outubro, arrancando parte da lona e da arquibancada do circo. Após três dias de trabalhos intensos, os danos foram reparados e o circo voltou a apresentar seus espetáculos pela cidade. Eles passaram então a promover a “sessão rosa”, uma programação dedicada especialmente às mulheres de Atibaia, na qual seria escolhida a jovem mais simpática e o rapaz mais feio.
Cotinha Carpinelli foi eleita a moça mais simpática de Atibaia (embora tenha havido protestos de alguns), e Miguel de Castro Neves foi escolhido por unanimidade como o rapaz mais feio. É importante notar que, naquela época, temas que hoje seriam considerados politicamente incorretos eram comuns e não eram encarados como assédio moral.
As atrações do Circo Jahú incluíam números de ginástica e acrobacia, apresentações musicais, teatrais e cenas burlescas. No intervalo, anunciavam outro concurso: a escolha do grêmio futebolístico mais querido da cidade. O vencedor receberia como prêmio um belo tinteiro de bronze fino no valor de 189$000 (Cento e oitenta e nove mil réis).
A realização de concursos sobre diferentes assuntos tinha o objetivo de atrair um grande público para os espetáculos, por meio da competição entre as torcidas. Embora isso possa parecer ingênuo nos dias de hoje, era uma estratégia de vendas eficaz naquela época. Devemos lembrar que, naquele tempo, a televisão ainda não existia, e as opções de entretenimento na cidade se limitavam ao cinema, ao teatro (quando disponível) e ao circo. O circo era, de fato, o principal espaço para a diversão do público local, onde a gargalhada e o riso fácil eram garantidos, mesmo em meio a momentos tão difíceis como que ocorreu em 1935.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.