O Grupo Dramático José de Alencar
Embora a disputa pelo público pagante fosse acirrada entre os dois cinemas, o mesmo não acontecia com seus grupos teatrais.
Márcio Zago
Continuidade da história do teatro de Atibaia.
Em março de 1914 no Pavilhão Recreio Cinema estreava o Grupo Dramático Gabriel D’Annunzio, a primeira organização teatral ligada a uma casa de diversões da cidade. No mesmo mêso cinema concorrente, oPalace Teatro, também colocava em cena a sua agremiação: o Grupo Dramático José de Alencar. O nome do grupo homenageava o romancista, dramaturgo, jornalista, advogado e político brasileiro José de Alencar, um dos maiores representantes da corrente literária indianista.
Entre seus romances estão Iracema, Senhora e O Guarani, este último serviu de inspiração ao músico Carlos Gomes para compor sua ópera mais conhecida. Sem o Teatrinho do Mercado, os cinemas passaram a abrigar os novos grupos teatrais que se formavam, integrando os antigos amadores que sempre estiveram atuantes na área, como João Pierotti e Benedito Carneiro. Além deles, o Grupo Dramático José de Alencar ficou assim constituído: Presidente – Capitão Joaquim Florido; Secretário – Professor Miguel Arruda; Tesoureiro – Coronel Teophilo Urieste e Ensaiador Alexandre Paganelli. Com isso Alexandre Paganelli passou a atuar nos dois cinemas exercendo a mesma função, ensaiador teatral – um reconhecimento pelo talento e trabalho que realizou em benefício do teatro local.
Embora a disputa pelo público pagante fosse acirrada entre os dois cinemas, o mesmo não acontecia com seus grupos teatrais. Em maio de 1914o Pavilhão Recreio Cinema realizou uma apresentação que reuniu as duas agremiações numa mesma montagem. A peça escolhida foi a farsa “Il Bambino de Um Anno”, que teve sua arrecadação em benefício da atriz Nieves Paganelli, esposa de Alexandre Paganelli. O destaque da apresentação foi Américo Bartholomey, bastante elogiado no papel do personagem Simon e Jorge Maluf, que recitou a poesia dramática A Caridade e a Justiça.
A segunda apresentação do Grupo Dramático José de Alencar ocorreu no Palace Teatro com a peça Artur – o Jogador, drama em três atos, além da comédia Os Doidos com Juízo, que tiveram o acompanhamento da corporação musical Lyra Atibaiense, regida pelo maestro Pedro Vasconcelos. Neste espetáculo o destaque foi para João Polydoro, Abrahão Zigaib e o Sr. Russomano, além da estréia de Pedro Vasconcelos como músico de teatro. Uma curiosidade é que a partir desta matéria o Palace Teatro passou a ser nomeado de outras formas: Primeiro como Pavilhão Popular, e mais tarde Teatro Popular.
Em junho de 1914 o Grupo José de Alencar se apresentou na cidade vizinha de Piracaia, ocupando o elegante Teatro Santa Aurea, além de encenar mais um drama em benefício da banda musical Lyra Atibaiense. Enquanto isso o Grupo Dramático Gabriel D’Annunzio trocava de diretoria, ficando como Presidente Ciro Chiochetti; Secretário Dante Bartholomei e Tesoureiro Constant Bretan, prometendo a contratação de uma bem organizada orquestra paulista para a próxima apresentação, fato que se deu com o drama Il Feudatario Milanese e a comédia Il Denari per laLaurea. Como se nota, mesmo sem o Teatrinho do Mercado, a cena teatral do município não acabou. As novas Casas de Diversões, como nomeavam os cinemas, absorveram os amadores locais e se transformaram em importantes espaços culturais, principalmente para a linguagem teatral, dando continuidade e incentivando o surgimento de novos artistas. Renovação que seria fundamental para o fortalecimento do teatro em Atibaia.