O Grupo Dramático de Atibaia
Márcio Zago
Matéria que dá continuidade a história do teatro de Atibaia. Em 1910 um novo grupo teatral foi organizado em Atibaia. Não há qualquer referencia ao nome, sendo tratado no jornal somente como “Grupo Dramático”. Fizeram parte da organização Heitor dos Santos, Domingos Mateus e o Dr. Miguel Vairo, que prometiam num futuro próximo à participação de atores de São Paulo e Jundiaí. A peça de estreia foi “Santa Cruz”, escrita por Alexandre Paganelli, com três atos e uma apoteose, além da comédia “Simplício Castanha & Companhia”.
Participaram da peça os amadores Benedito Pierotti e Ernesto Neves. De sucesso regular, a crítica não poupou os esforçados estreantes: “O final do drama não foi feliz, houve um verdadeiro desastre nas luzes cambiantes: esfumaçou o teatrinho que por pouco não asfixiou o público”. Lembrando que a iluminação elétrica era relativamente recenteno teatrinho e a novidade ainda não estava totalmente assimilada pelo público.
A crítica reforçava: “É bom para outra vez que não se reproduzam fatos desta ordem, e também que não falte policia para prender o pandego que apagou as luzes por cinco vezes, deixando as famílias sobressaltadas, mesmo quando se achavam em cena os atores. Isto é um abuso e inqualificável falta de respeito”. Outra crítica foi em relação à duração da peça, que terminou às duas horas da madrugada.
O espetáculo seguinte do Grupo Dramático contou com a participação da atriz Julia Lopes, velha conhecida dos palcos atibaiano. Júlia Lopes costumava se apresentar com frequência no teatrinho do Mercadodesde criança, quando fazia dupla com seu irmão Júlio. O jornal anunciava sua participação na peça destacando que a atriz trabalhava no “Braz Bijou” onde apresentava cançonetas e bailados.
O recém-inaugurado “Braz Bijou” ficava na Avenida Rangel Pestana e tinha uma configuração bastante comum na época, uma junção de cinema e teatro. O Brás foi o coração cultural da cidade de São Paulo durante quase todo o século XX abrigando inúmeros cinemas e teatros. Mais tarde tornou-se referência da comunidade italianapor conta da forte presença de indústria, especialmente ao longo das ferrovias que cortavam o bairro. Uma curiosidade sobre o “Braz Bijou”, é que um dos proprietários da casa era Erasmino Gogliano, pai de Oswaldo Gogliano, o Vadico, companheiro de Noel Rosa em sambas famosos como “Feitiço de Oração”, “Conversa de Botequim” e “Pra que Mentir”.
Em Atibaia o jornal O Atibaiense também anunciava para breve a construção de um empreendimento semelhante. Tratava-se da construção do “Pavilhão Recreio Cinema”, do empresário Deoclides Freire. Este foi o primeiro cinema de Atibaia e seguiu os padrões da época ao incorporarteatro e cinema num mesmo espaço. Foi à forma encontrada pelos empresários de investir numa linguagem ainda recente, como era o cinema, e ao mesmo tempo garantir o retorno financeiro do investimento ao oferecer atrações teatrais, linguagem aceita e muito procurada. O “Grupo Dramático” ainda fez algumas apresentações no teatrinho, inclusive com a participação da Julia Lopes, antes de também sucumbir, como os grupos que o antecederam. Assunto para a próxima matéria.